Votação de isenção a barracas vira ‘barraco’ entre vereadores

Ricardo Welbert

Um projeto de lei elaborado pelo vereador Roger Viegas (Pros) com o objetivo de isentar as entidades reconhecidas como de utilidade pública da cobrança da taxa de licença para montagem das barracas em eventos beneficentes foi aprovado ontem na Câmara, em uma votação marcada por um “barraco” protagonizado pelo vereador Kaboja (PSD).

Ao defender o adiamento da análise do projeto com base em um parecer jurídico que o considerou como inconstitucional, Kaboja disse que a Câmara é uma casa de respeito e que nenhum vereador está ali para brincar.

Em seguida a fala dele foi criticada por Dr. Delano (PMDB), que, sem citar Kaboja nominalmente, mas fazendo referência a ele como “o colega que me antecedeu”, ironizou a fala do outro. De repente, Kaboja se exaltou, bateu na mesa e começou a gritar em protesto contra Dr. Delano, enquanto ele ainda discursava.

— O vereador tá muito repetitivo, uai. Aqui não é circo não, rapaz. Você acha que vai ficar aí falando palhaçada. Eu não aceito, não — disse Kaboja ao microfone, interrompendo a fala de Dr. Delano.

O presidente Adair Otaviano (PMDB), que estava ao lado de Kaboja na Mesa Diretora, tentou acalmar o colega, dizendo a ele, no microfone, que cada vereador tem o seu momento de falar e que Kaboja precisava respeitar o instante de Dr. Delano. Mas, não adiantou.

— Eu não aceito, não. Eu não aceito, não. É pra parar de dar show. Vai parar de dar show aqui. Vai dar show pra vocês — gritou Kaboja, enquanto o presidente continuava tentando acalmá-lo.

Janete Aparecida (PSD) se levantou e foi até a cadeira de Kaboja, para também tentar acalmar o colega.

— Comigo não tem circo, não. Não tenho medo de vereador, não — gritou Kaboja, enquanto se levantava. — Aqui não tem circo, não. Repetitivo, péssimo vereador — gritou, enquanto Adair Otaviano repetiu ao microfone que ele poderia ter a oportunidade de falar.

— Todo dia é a mesma lereia, nunca leu um projeto. Não conhece uma peça orçamentária. Quem você tá achando que é, sô?  Essa Câmara fica parecendo um circo, sem nenhum projeto que realmente traga benefício à população. É cada um pior que o outro. Fica essa lereia aí o dia inteiro — gritou Kaboja, enquanto deixava o plenário batendo o portão de acesso ao auditório e saindo pela porta lateral. 

Adair Otaviano disse que o direito de fala continuava com Dr. Delano. Embora tenha pedido ao colega que falasse do projeto em votação, o médico não deixou de criticar o comportamento de Kaboja.

— Não vou deixar agora. Eu fui agredido, com câmeras no plenário. E deixaram essa agressão, né? O desequilíbrio psíquico do colega me comove. Ele continua gritando aí pelos corredores. Desequilíbrio psíquico, né? Mas a gente entende ele. Uns remedinhos — disse Dr. Delano.

O vereador voltou a defender seu ponto de vista sobre o projeto. Pouco adiante, fez um comentário direcionado ao prefeito Galileu (PMDB), dizendo que aquele homem desequilibrado, em referência a Kaboja, é o representante do governo na Casa. Vereadores como Edson Sousa (PMDB), Zé Luiz da Farmácia (PMN) e Sargento Elton (PEN) lamentaram o comportamento dos colegas.

Enquanto eles falavam, Kaboja criticou a atitude de algumas pessoas que o filmavam. Além de repórteres, estava no local o presidente da União Estudantil Divinopolitana (UED), André Luis Romualdo Ferreira, que filmava o vereador com o celular.  

— Vou te bater — disse Kaboja a André, rindo, enquanto voltava à Mesa.

Vídeo: 'Vou te bater'

Dr. Delano disse que se o colega não pedisse desculpas naquele momento pela postura que teve, acionaria a Comissão de Ética por Kaboja ter ofendido a ele, a pessoas na Câmara e à própria instituição legislativa ao chamar o plenário de “circo”.

— Se o vereador que me antecedeu esperar desculpas, ele vai morrer sem as desculpas. Eu também vou acionar, mais uma vez, a Comissão de Ética. Quem é ele pra falar de uma pessoa que sempre tratou, em 20 anos, todos os vereadores com maior respeito e carinho. Como vereador, eu só tento construir amizades aqui, respeitosas. Agora, coisas pessoais, brigas pessoais, mandando gente lá em Ermida na minha casa? Quem é essa “dona Conceição”, “Mariquinha”, dona não sei o quê? Que palhaçada é essa? Vamos respeitar. Nós estamos discutindo aqui a constitucionalidade de uma matéria séria. Não estamos aqui pra fazer circo pros outros, pra se colocar em redes sociais. Kaboja é forte. Aqui não tem medo de ninguém não. Eu gosto que me filme. Tô com saudade de sair nessas redes sociais. Esqueceram de mim. Eu preciso sair porque sou considerado o melhor vereador desta casa. Sempre fui — afirmou.

Em seguida, Kaboja disse que “é muito sério ficar brincando” na Câmara.

— “Mariquinha”, “Terezinha”, “Ermida”, desrespeitando minha família e mandando pessoas invadirem a minha casa. Inclusive agora eu acho que isso aqui [a Câmara] não vai trabalhar mais. Todos os vereadores deveriam fazer uma agenda positiva. Mas o que essa legislatura tem feito a não ser gritos e berros aqui? Nós vamos ter agora mais dois vereadores na Comisão de Ética. Espero que seja eu e o que me antecedeu e lá nós vamos mostrar quem é quem. A população tem que saber quem é quem, porque aqui, caçou briga comigo, tem. Eu nunca mexi com nenhum de vocês aqui. Sempre fui respeitoso com todo mundo, inclusive com ele. Jamais. Mas, esses chiliques e agressões pessoais eu não aceito. De hoje em diante, bateu, levou — disse o líder do governo.

Passou 

O projeto em discussão e votação foi aprovado, com apenas um voto contrário, de Kaboja. Segundo Dr. Delano, venceu “o povo”. Em seguida, Kaboja pediu a palavra para justificar o voto.

— Eu vou demonstrar pra vocês, com a Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin), que eu estou certo. Isso aqui é uma casa de leis. Eu não vim aqui pra prejudicar projeto de Roger, não. Eu não posso me furtar para agradar a um companheiro sabendo que a matéria é totalmente inconstitucional — acrescentou.

Procurado pelo Agora após a sessão, o presidente da UED lamentou por ter sido alvo das palavras de Kaboja.

— A atitude dele representa mais uma tentativa frustrada de tentar cercear a liberdade de comunicação, de expressão, de uma pessoa dentro da Câmara, que é a casa do povo — afirmou André Luis.

 

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