Vereadores mais velhos têm ciúmes dos novatos, diz Cleitinho

Ricardo Welbert

Terceiro vereador mais votado da atual legislatura em Divinópolis (3.023 votos, que representam 2,62% do total no município), Cleitinho Azevedo (PPS) não economiza sinceridade ao ser perguntado pela jornalista Gisele Souto sobre os constantes atritos com os colegas que já exerceram outros mandatos.

— Existe ciúme dos mais antigos com os novatos. As pessoas têm essa questão do ego. Quando eu vejo outra pessoa fazendo sucesso com algo que seja bom, torço para que ela consiga ainda mais. Mas na Câmara, quando um novato se sobressai, os mais velhos ficam com inveja e ciúme. Mas isso é natural da política e infelizmente a vaidade aflora e fala mais alto — afirma.

A entrevista começou com uma questão sensível ao candidato: os críticos que afirmam que ele perdeu aspectos da identidade depois de eleito. Ele afirma que nada mudou desde que ele deixou de lado a profissão de cantor para exercer o cargo público.

— Sempre expressei minhas opiniões políticas por meio da arte. A música sempre foi uma forma de eu manifestar o que penso sobre a política. Quem me conhece daquela época sabe que sempre questionei tudo o que vinha do sistema. Eu já dizia que não tinha medo do sistema. Continuo não tendo medo e nunca terei — ele diz.

Prejuízo e vingança

O engajamento político levou Cleitinho a perder dinheiro na música. Segundo ele, políticos começaram a pedir aos produtores de shows e eventos que não o contratassem, pois a forma como ele usava os palcos para criticar poderosos poderia comprometer os interesses deles. Com isso, uma agenda de shows que chegava a ter 13 apresentações por mês foi aos poucos reduzindo até acabar.

— Eu quis fazer vingança e justiça entrando na política, porque eles tiraram de mim o que eu mais gostava. Agora vou tirar o que eles mais gostam, que é roubar — revela.

Vídeos

Bastante presente nas mídias sociais (possui 7 perfis e uma página no Facebook), por várias vezes Cleitinho usou o tempo de discurso na Câmara para rebater quem diz que ele gosta de aparecer. 

— Dizem que eu faço muitos vídeos. E sou mesmo, porque sou artista e artista gosta de aparecer. Só que eu sou um dos vereadores que mais têm proposições protocoladas na Câmara. Minhas funções de legislar e fiscalizar, faço corretamente. Por trás de cada vídeo que posto tem a atuação de um vereador. Amo aparecer e vou continuar aparecendo, mas apareço com coisas boas — diz ele.

Além de usar as mídias sociais para mostrar o resultado de seu trabalho, Cleitinho afirma que também gosta do ambiente virtual porque nele as informações são livres.

— As redes sociais chegaram para tirar a sujeira de debaixo do tapete. Quando publico um vídeo novo, em poucas horas a cidade inteira sabe do que eu tenho a dizer. Isso serve para pressionar o poder público. Nesse primeiro ano de mandato eu pude perceber que o poder público funciona através de pressão. Se você faz pressão, ele trabalha. Então a rede social é a melhor ferramenta de que precisamos para fazer essa pressão — avalia.

O tempo no cargo de vereador também já o permite perceber interesses escusos nos discursos de colegas.

— Em muitas reuniões a gente vê bate-bocas entre os mais velhos e os novatos. Essas brigas sempre são levantadas pelos mais velhos. É descontrole deles. Falta de sentarem e perceberem que isso não leva a nada — observa.

"Efeito Cleitinho"

O vereador já usa até o próprio nome para se referir a um efeito político que percebe junto aos colegas.

— Tem o "efeito Cleitinho" também. No começo do mandato eu dispensei o carro que a Câmara me oferecia. Poucos meses depois, o presidente extinguiu o carro de todos. Em outra ocasião briguei para que a Prefeitura não desse dinheiro público à Divinaexpo. Não que eu tenha algo contra festa. Mas com a cidade em calamidade financeira e faltando remédio na farmacinha, não tinha como pegar R$ 300 mil e dar para uma festa privada. O mesmo vale para a Copasa [Companhia de Saneamento], que hoje diz em propaganda que está investindo R$ 100 milhões no tratamento do esgoto em Divinópolis, mas eu já disse na Câmara e repito aqui que o dinheiro não é da Copasa. O dinheiro é da população, que paga taxa há muitos anos. Desde quando começaram a falar sobre aumentar o IPTU eu briguei e fui contra. Na hora da votação, muitos dos que disseram que votariam favoráveis ao aumento votaram contra também. É isso que eu faço — ressalta.

2018

Para o vereador, um dos maiores desafios de Divinópolis em 2018 é a falta de empregos.

— Toda hora tem gente deixando currículo no meu gabinete. Precisamos incentivar as empresas a virem para a cidade. Então nós precisamos ter essa prioridade. Não adianta querer abraçar tudo, que não vai fazer nada — declara.

Baixa audiência

As expectativas também não são boas em relação à participação popular. Ao longo de 2017, várias audiências públicas importantes ficaram vazias. Uma delas foi marcada para que houvesse um debate sobre os 350 metros cúbicos de lixo hospitalar abandonados há cinco anos em um galpão no Centro Industrial. Não apenas as cadeira da plateia ficaram vazias como vários lugares à mesa não foram preenchidos. Autoridades das secretarias municipais de Saúde e Meio Ambiente, do Estado, do Ministério Público mineiro e do Judiciário foram convidadas, mas não compareceram.  

— Essa baixa presença da população reflete um pouco da falta de credibilidade da política junto à sociedade. De minha parte, tento ir aos cidadão que não vêm à Câmara. Faço isso todos os dias. Recebo demandas da comunidade e faço a ponte disso com o Executivo. Mas, no geral, as pessoas estão descrentes com a política. Elas não estão acreditando na gente e cabe a cada um de nós, em suas ações individuais, tentar mudar isso — pondera.

Eleições

Para Cleitinho, as eleições de outubro serão um divisor de águas.

— É hora da mudança. Se a gente continuar com os mesmos políticos que aí estão, não haverá mudança. A mudança vem do eleitor, porque é ele que nos coloca lá. É preciso saber votar, principalmente em deputado federal, pois sem o Congresso a Presidência não faz nada. Fato que é que se já está ruim do jeito que está, é preciso mudar. Aécio Neves, por exemplo, é político desde que me entendo por gente. Isso tem que mudar — finaliza.

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