Vendo minha alegria barato!

Israel Leocádio

Olá! Como vai!? Quero compartilhar um pensamento que tenho cada vez que inicio meus artigos. É que inicio sempre com a frase: “Olá! Como vai!?” e, às vezes, me pego imaginando alguém que não está em seu melhor dia, irritado ou triste por algum motivo, respondendo com um sonoro “não estou bem!”. Hoje, imaginei mais uma vez essa situação. É natural que tenhamos péssimos dias, quando não queremos companhias inconvenientes ou aquelas pessoas que  insistem em demonstrar felicidade o todo tempo, nos olhando com um sorriso (como se nos conhecessem). Quando de manhã acordamos de mau humor, queremos distância de toda forma de alegria (na verdade, não gostaríamos nem mesmo de nossa própria presença!). Num dia em que estamos desinspirados, nenhuma melodia é agradável. Tudo parece um ruído irritante. Toda cena merece nosso desprezo. Não é uma crítica que faço. É o relato de alguém que vive dias assim. Dias nublados emocionalmente, que anunciam uma tempestade de má sorte, com raios de raiva e trovões de amargura. Sei como é!...

Em dias assim, nada parece ser pior. É como diz a Bíblia: “basta ao próprio dia o seu mal” (Mateus 6.34). Contudo, pode ser que dias assim tornem as coisas mais difíceis. Porque a vida é dinâmica. Sendo (para nós) um dia positivo ou não, a vida é vivida. E viver (entre outros fatores) é fazer escolhas todo tempo. Exatamente por ser “viva”, a vida exige tomada de decisões. É inevitável. Tomamos decisões ontem (quando tudo estava bem ou mal), tomaremos decisões hoje (sentindo-nos bem ou mal) e, vindo o amanhã (bom ou mau), teremos que tomar decisões. Estimativas publicadas pelo The Wall Street Journal apontam que as pessoas tomam, em média, 35.000 decisões por dia – algumas mais simples, outras complexas. Não se engane: podem ser decisões importantes! Imagine como fazemos escolhas em um dia mau: pode começar com uma resposta má para um assunto e se desenrolar em várias outras decisões cruciais. Convém lembrar que escolhas são como sementes – iremos colher seus frutos no amanhã.

Quero compartilhar duas situações que aprendi em minhas leituras. A primeira, encontrei na Bíblia. É a história de um jovem caçador, que após um dia “daqueles”, retornou exausto, derrotado e faminto para casa (em dias assim tudo que desejamos são as respostas imediatas que resolvam o nosso mau humor). E com esse jovem não foi diferente. Buscando alívio momentâneo, encontrou-se com seu irmão e logo tomou uma decisão séria: negociou a bênção da primogenitura (o que equivale à herança  espiritual da família). Faminto, pensou: “De que me vale algo invisível e distante?”. E aquele jovem (chamado Esaú) não titubeou. Decidiu por vender barato a honra de ser o filho mais importante. Essa decisão no momento de cansaço lhe custou a perda do direito de ser herdeiro da promessa de Deus a Abraão. Ele vendeu sua alegria a um baixíssimo preço: uma porção de ensopado de lentilhas.

A segunda história que li sobre o poeta Olavo Bilac, que tinha um amigo que desejava muito vender sua propriedade. Um sítio que lhe dava muito trabalho e despesa.

Aquele homem queixava-se de ser uma pessoa sem sorte, pois, dor de cabeça não lhe faltava. Então, pediu ao amigo poeta para redigir o anúncio da venda do seu sítio, porque acreditava que as palavras belas do amigo poeta facilitariam a venda.

Assim escreveu Olavo Bilac: “Vende-se encantadora propriedade onde cantam os pássaros, ao amanhecer no extenso arvoredo. É cortada por cristalinas e refrescantes águas de um ribeiro. A casa, banhada pelo sol nascente, oferece a sombra tranquila das tardes, na varanda”.

Meses depois, o poeta encontrou o amigo e perguntou-lhe sobre a venda da propriedade. “Nem pensei mais nisso”, respondeu ele, “quando li o anúncio que você escreveu, percebi a maravilha que eu possuía”.

Algumas vezes, é assim: porque acordamos de mau humor, decidimos escolher palavras amargas, que tornam nosso dia em uma constatação de infelicidade. Quando cansados e nos sentimos derrotados, vendemos nosso bem mais precioso só porque naquele momento não nos importa muito. E, às vezes, precisamos do olhar do outro para enxergar o que possuímos de riqueza, que por nossos olhos desanimados não enxergamos.

Hoje, pense melhor antes de responder a alguém que apenas lhe deseja um dia especial. Hoje, descanse um pouco, antes de pensar em avaliar a sua vida. Hoje, tome emprestados os olhos do amor de Deus, para ver melhor, antes de jogar fora sua felicidade. Enfim, não venda sua alegria por uma pechincha! A vida vale mais quando damos o devido valor a ela.

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