Vai ficar por isso mesmo

Foi necessário que 166 pessoas morressem – mais 155 continuam desaparecidas – para que os políticos brasileiros começassem a se mobilizar na causa das barragens de mineradoras no Estado. O rompimento da barragem do Fundão em Mariana, com 19 mortes, não foi o suficiente para que esta mobilização fosse feita. Afinal, foram “só” 19 mortos. Como no Brasil não existe a política preventiva, foi preciso, então, que mais de 300 famílias fossem condenadas a viver com a dor, desamparo e desespero. Hoje, 166 viverão pelo resto de suas vidas com esta tragédia. Hoje, 155 famílias continuam esperando o corpo de seu ente querido para se despedir, e assim poder sair da angústia se ele está ou não vivo.

Quem acompanha os noticiários desde o dia 25 de janeiro já ouviu diversas declarações de parentes querendo apenas o corpo de seu familiar, para dar a ele uma despedida digna. Outros ainda acreditavam que seu ente poderia estar perdido na mata. O Agora trouxe com exclusividade um vídeo de um jovem procurava pela irmã, uma adolescente de apenas 16 anos, que estava desaparecida. Na gravação, o jovem grita de desespero, e, no fim, se agarra a uma mulher e diz: “Ela pode morrer de hipotermia”. Hoje, não só as famílias dos 166 mortos confirmados e dos 155 que continuam desaparecidos foram condenadas a viver com a dor e angústia. Brumadinho para sempre será marcada pelo descaso, pela ganância, pelo “lucro acima de tudo”.

A Vale sabia muito bem dos riscos de rompimento, e tinha até projetado os custos e também o número de mortos que o possível rompimento causaria na cidade. O possível virou realidade bem debaixo dos olhos dos parlamentares que são pagos para lutar pelo outro. O possível se tornou realidade bem debaixo dos olhos de um governador, que hoje trata o crime como “incidente”. E foi só depois que 166 pessoas tiveram suas vidas levadas pela lama, e centenas ficaram desabrigadas e desaparecidas, é que a Câmara e Senado resolveram criar comissões parlamentares de inquérito (CPI’s) para apurar as causas do maior desastre socioambiental na história do Brasil. Na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), grupo semelhante será criado nos próximos dias.

Mas, se há uma coisa que o divinopolitano pode dar aula no Brasil é se CPI resolve alguma coisa. De 2017 para cá, a cidade já teve cinco CPI’s, e infelizmente nenhuma serviu para algo para o cidadão. A taxa da Copasa continuou a ser cobrada, a Upa continua lotada, o prefeito Galileu Machado (MDB) continua seu mandato, a Câmara continua pagando publicidade aos veículos de comunicação e o IPTU continuará a ser cobrado da mesma forma que é hoje. Tudo permanece igual. Enquanto comissões para averiguar ainda a causa (oi?) da tragédia estão sendo criadas, outras pessoas continuam correndo risco de vida em cidade com barragens que estão prestes a romper.

Por mais que os noticiários façam de tudo para que o assunto não morra, para que os culpados sejam punidos e as vítimas indenizadas, tudo vai ficar por isso mesmo, pois o Brasil nada mais é do que o país da piada pronta. O país onde CPI’s são criadas para ficar por isso mesmo.

 

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