UPA envia nota de repúdio à Câmara e nega negligência em caso denunciado por vereador

Parlamentar reforça que apenas fez questionamentos em defesa da família da vítima

Matheus Augusto

A administração da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Padre Roberto em Divinópolis enviou nesta semana à Câmara uma nota de repúdio em relação aos comentários do vereador Flávio Marra (Patriota). A unidade acusa o parlamentar de divulgar informações falsas sobre o caso de um homem que, apesar de ter morrido por infarto, teve seu corpo armazenado na área de covid-19, impedindo a família de realizar o velório. Agora, o parlamentar se defendeu, explicando que apenas fez questionamentos pertinentes com o objetivo de evitar que a situação se repita no futuro.

Não houve negligência

No texto enviado ao Legislativo, a unidade, por meio de seu corpo clínico e da administração do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Social (IBDS), manifesta sua "indignação e repúdio às informações inverídicas divulgadas nas mídias sociais do edil Flávio Marra, nos fatos ocorridos na data de 1° de maio de 2021, a respeito de negligência médica". O texto ainda cita a tramitação de um projeto para abertura de CPI contra o instituto. 

— (...) Trata-se de mensagem caluniosa, difundida com o objetivo unicamente de desgastar a imagem desta unidade, de seus administradores e equipe diante da opinião pública. Enfatizamos que não houve ato de negligência sobre o fato ocorrido — ressalta.

Acusando o material de “sem fundamento técnico ou ético”, a UPA reforça que seus profissionais médicos, especialistas e subespecialistas possuem experiência renomada e formação nas melhores universidades do país.

— (...) profissionais que atendem com carinho e dedicação. Por inúmeras vezes presenciamos o esforço de todos na busca de diagnóstico de precisão, muitas das vezes com recursos escassos, chegando até a utilizar, inclusive, recursos próprios — argumenta. 

A unidade ainda cita que, neste período de pandemia, tem prestado “um serviço de excelência e com apresentação de resultados satisfatórios”.

— Aos profissionais de saúde que enfrentam as mais diversas dificuldades para atender toda população neste momento difícil, nosso reconhecimento e empatia num momento de absoluta tensão e risco. Aos cidadãos relacionados ao caso, reivindicamos respeito, acolhimento e reconhecimento aos profissionais que abrem mão de suas vidas em prol de outras — cita.

Em referência ao vereador, o ofício declara: "(...) atos desse tipo apostam total desrespeito com o próximo, com os profissionais de saúde e só trazem prejuízos a todos que estão na luta para que isso um dia vire apenas história”.

O documento é assinado pelo gerente de Serviço de Saúde, Weyndersohn da Silva Fonseca, e pelo diretor técnico, Rodolfo Monteiro Barbosa.

Questionamento pertinente

O Agora conversou com o vereador Flávio Marra. Segundo ele, seu objetivo nunca foi manchar o trabalho da unidade, mas divulgar o caso para evitar que situações semelhantes se repetissem no futuro.

— Esse questionamento é para que não aconteça mais. Eu, como fiscalizador, onde tem dinheiro público eu tenho que questionar, perguntar, correr atrás porque a população me cobra. É isso que eu fiz.  Eu não estava lá para aparecer, me autopromover ou prejudicar a unidade. De forma alguma. Até porque eu sei que a maioria dos profissionais comprometidos com o trabalho são dedicados e estão trabalhando muito devido à pandemia — explicou.

Sobre a nota em questão, o parlamentar disse que o esclarecimento precisa ser feito, primeiramente, à família do falecido, não a ele.

— Essa nota de repúdio que a UPA mandou para Câmara, no meu entendimento, foi desnecessária. Eles tinham que mandar respostas para as famílias que passaram por essa situação, por episódios iguais ou semelhantes a esse — afirmou.

O caso

A situação teve início no primeiro dia do mês. Na data, conta Flávio, ele foi até a Unidade de Pronto Atendimento após ser contatado pela família da vítima. Morador do bairro São João de Deus, Edson Antônio dos Santos, de 53 anos, morreu na madrugada do dia 1°, após infarto do miocárdio, como alega constar na certidão de óbito.

— A UPA pegou o corpo do Edson e colocou na área de covid, fazendo com que a família não tivesse direito ao velório. Uma vez que é colocado neste espaço específico, o serviço funeral do luto chega, embala o corpo, coloca dentro do caixão e não tem velório. Esse é o procedimento — detalhou.

O vereador ainda conta que, diante da situação, publicou um vídeo em suas redes sociais, criticando a atitude que impediu o direito dos familiares de realizarem o velório.

— Fizemos o vídeo questionando por que ele foi para área da covid se, inclusive na certidão de óbito, estava escrito por infarto. (...) Quantas pessoas mais passaram por isso? A pessoas morre por outro motivo, sem ser covid, eles pegam e põe na área de covid fazendo com a família não tenha nem o direito de velar esse ente querido, familiar ou amigo — justificou. 

Por fim, o vereador explicou que, inclusive, coordenadoras da UPA admitiram publicamente o erro de protocolo.

— (...) deram entrevistas admitindo o erro, de que o corpo não deveria ter passado para área de covid e pediram desculpas à família. No dia do vídeo, eles nos pedem desculpa e à família — comentou.

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