UPA de Divinópolis atrasa salário e segue superlotada

Unidade é gerenciada pela Santa Casa de Formiga e foi tema de discursos acalorados de vereadores

Marília Mesquita e Rafael Camargos

Após a liberação de R$3,72 milhões em crédito suplementar para a Secretária de Saúde (Semusa) na última quinta-feira, 17, o vereador Eduardo Print Júnior (SD), na tribuna ontem, 22, denunciou que os médicos da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) estão com os salários atrasados. 

De acordo com uma fonte do Agora que é médico da unidade de saúde e pediu para ser resguardada sua identidade, anteontem, 21, o salário referente a junho foi depositado, porém o valor não é o integral.  

— Eu trabalho na UPA desde 2015 e agora os atrasos salariais têm sido constantes. Eu recebi 65% do vencimento referente a junho — pontua. 

A fonte também disse que a brincadeira entre os funcionários é de que há um sorteio sobre quem terá direito a receber o pagamento.  

Os fornecedores também não estariam sendo pagos e, por isso, estão faltando diversos medicamentos 

— Além dos atrasos constantes e do pagamento fracionado, acontece ainda de alguns funcionários receberem e outros não — revela 

De acordo com a assessoria de comunicação da Prefeitura, os repasses da Semusa para a Santa Casa de Formiga - administradora e gerenciadora da UPA desde setembro de 2014, após vencer o processo licitatório - estão ocorrendo. Assim, segundo a assessoria, a parte do Município está em dia. Porém, em contato com a Santa Casa para esclarecimentos, não foram dadas respostas até o fechamento desta página, por volta das 18h. 

Pelas informações dos projetos de lei aprovados na última semana, R$ 2,885 milhões, ou seja, 77% do repasse, serão direcionados para implantação e manutenção dos serviços de urgência e emergência na cidade.

Primeiros socorros

A UPA é uma estrutura intermediária entre as unidades básicas de saúde (posto de Saúde) e a rede hospitalar. Desta forma, de acordo com a Prefeitura os equipamentos e medicamentos são suficientes para atender a capacidade de 350 pacientes por dia, como determinado pelo Ministério da Saúde (MS), diante da população de 232 mil habitantes. Porém à superlotação na UPA é um problema grave desde praticamente, sua inauguração.  

Como falou a fonte, o grande problema da UPA é que muitas vezes ela não assume apenas o papel de urgência e emergência.  

— O hospital São João de Deus é o único que recebe atendimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Divinópolis. Porém, como ele não está recebendo mais pacientes devido à lotação, sobrecarrega a UPA com funções que não cabe a ela— revelou.  

O Hospital Regional, que começou a ser construído em 2010, está com as obras paralisadas desde o ano passado, poderia atender até 500 mil pessoas. Entre elas, moradores de Divinópolis.  Porém, deve continuar assim por muito tempo, já que o governador Fernando Pimentel (PT) teria falado em uma de suas vindas à cidade, que não é de interesse de seu governo terminar a construção e, sim, investir nas unidades que já realizam o atendimento, como o São João.

Casos

O paciente Ronan Cardoso dos Santos, de 60 anos, é portador de diabetes e precisa realizar um procedimento na UPA. Ele tinha que tirar o dedo do pé devido às complicações da doença. Mas, o atendimento não ocorreu no tempo correto e o caso se agravou. Segundo seu filho, Edmilson Cardoso dos Santos, ele acabou perdendo a perna e corre sérios riscos.  

Ainda segundo o filho, o médico alegou que ele iria internado, mas retornar posteriormente para tratamento. Quase duas semanas depois, o paciente teve complicações.   

O vereador Marcos Vinícius (PROS) também abordou o assunto. Segundo ele, uma senhora de 90 anos tem a ordem judicial para realizar o tratamento em uma unidade que ofereça, mas a determinação não é cumprida. Ele ainda questionou o atendimento no local e falou sobre o esforço para atender os pacientes.

Transferência

Depois de 10 dias de espera, o ferimento de Ronan não melhorou e, por isso, ele foi encaminhado para um hospital de Pitangui. 

O filho do paciente contou ainda que um médico já encaminhou documentos para a UPA, agora aguardam a resposta da Semusa para que o pai passe por uma cirurgia no próximo sábado,26. 

No início do mês, o Juizado Especial expediu uma determinação para que o Estado providencie a internação do paciente.

Espera

Na última sexta-feira, 18, a UPA estava com 60 pacientes aguardando internação. 

A prefeitura ressaltou que a espera por internação não se caracteriza como primeiro objetivo da unidade e ressaltou ainda que a previsão legal é de que a unidade ofereça atendimento emergencial.  

Sendo necessária a internação, o paciente deveria ser encaminhado para a rede hospitalar conveniada. Porém, diante do compromisso da administração e dos servidores da saúde com o cidadão, a maior parte dos casos fica na UPA aguardando internação, até mesmo porque o Hospital São João de Deus, referência local para o SUS, está com 100% de ocupação.

Renato Ferreira é o novo presidente da Comissão de Saúde

Com a abdicação do vereador Delano Santiago (PMDB) da presidência da Comissão na Câmara, o até então secretário, Renato Ferreira (PSDB), assumiu a função vaga. E assim deve permanecer até o último dia do ano.  

De acordo com o novo presidente, ele já tem conhecimento do que pode ser feito. 

— Já fui membro voluntário do Conselho de Saúde do São José e irei trabalhar em prol da saúde — afirmou. 

 Para o início dos trabalhos frente à função legislativa, ele disse que irá se reunir com a coordenação da UPA para analisar a melhor forma para atuar a favor da unidade de urgência e emergência.   

— A UPA é um pronto atendimento que está atuando como hospital. Irei recorrer ao estado para que ele também pague a dívida que tem com a cidade — disse.  

Na nova formação da Comissão de Saúde, Ademir Silva (PSD) que era membro, tornou-se o secretário, e César Silva (PP), que era o primeiro suplente, é agora membro.

Atrasos e críticas

O novo presidente da Comissão de Saúde denunciou também que atrasos no pagamento de fornecedores têm provocado a falta de medicamentos básicos para o funcionamento da Unidade de Pronto Atendimento. Destacou o comprometimento dos trabalhadores do local e criticou a Secretaria de Saúde que não aparece e não apresenta soluções. Lembrou a votação na última semana que liberou suplementação orçamentária para a UPA. 

Lamentou a precariedade do atendimento, sendo que, apesar da entrega e profissionalismo dos profissionais abnegados que ali atuam, os mesmos não dispõem de estrutura para exercer suas funções a contento.  

— Mesmo com a judicialização da saúde, não conseguem atender. É lamentável paralisação das obras do hospital público, hoje, em estado de deterioração. As autoridades envolvidas precisam se ater a este fato grave — finalizou Renato Ferreira.  

 

 

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