Unidades de saúde são promessas sem garantia, afirma vereador

 

Matheus Augusto

Um projeto aprovado na reunião da Câmara de terça-feira, 12, deu esperanças a muitos moradores de ter perto de casa uma Unidade Básica de Saúde (UBS). A proposta, encaminhada à Casa Legislativa pela Prefeitura, prevê a venda de seis lotes para a construção de quatro unidades de saúde para as seguintes regiões: Santo André; Ipiranga e LP Pereira; Padre Eustáquio, Santa Lúcia e Candelária; Dom Cristiano e Jardim das Oliveiras. A média de arrecadação esperada pelo Executivo é de R$ 2,2 milhões. Mas a proposta, segundo o vereador Roger Viegas (Pros), pode não ser concretizada.

E se não vender?

O vereador aproveitou seu tempo de fala para elogiar o intuito da proposta, mas disse que as unidades não estão garantidas.

— O fato de construir unidades básicas nos bairros é um ato muito louvável. O que temos que criticar aqui é o fato de a Prefeitura abrir mão de seu patrimônio para executar essas obras. Eu digo isso porque, mais uma vez, o prefeito, acredito, está iludido ou sendo iludido e também iludindo a população. Como o prefeito faz esse tipo de promessa, de que vai construir as unidades básicas, sendo que ele precisa primeiro vender os referidos imóveis, quem garante que os lotes serão comprados? — questionou.

Roger ainda afirmou que, com a proposta, o prefeito Galileu Machado (MDB) atribui a construção das unidades, exclusivamente, à venda dos imóveis.

— Sabemos da necessidade da construção dessas unidades básicas de saúde, é verdade, mas é uma covardia quando o Executivo vincula a construção à venda desses imóveis, pois essa venda pode demorar até anos para ser efetivada. Além do mais, o que o prefeito quer dizer com isso é: “se vender, eu faço; se não vender, eu não faço”. Isso, acredito eu, é fazer os vereadores e a população também de boba, é iludir os munícipes — destacou.

Recurso insuficiente

Com base em conversas que teve há cerca de dois meses com o secretário de Saúde (Semusa), Amarildo Sousa, Roger questionou se os recursos seriam suficientes para construir todas as quatro unidades.

— Vamos dizer que todos os lotes sejam vendidos. A arrecadação será suficiente para construir as unidades e colocá-las em pleno funcionamento? Eu digo que não, pois em uma conversa com o secretário de Saúde, anteriormente, (...) há cerca de dois meses, ele disse: “Roger, se não tiver uma emenda parlamentar de, no mínimo, R$ 700 mil para a instalação de uma UBS, não funciona” — relatou.

O edil ainda apresentou seus cálculos sobre a venda dos imóveis e disse que o recurso não seria suficiente. Segundo ele, o bairro Santo André arrecadaria cerca de R$ 560 mil, o Dom Cristiano, R$ 534 mil, e o Padre Eustáquio, R$ 420 mil. Todas as estimativas feitas pelo vereador consideram a venda de todos os lotes, o que, segundo ele, seria um “negócio das arábias”.

— Esses valores serão suficientes? E se for vendida apenas parte desses lotes? O que o prefeito fará? — questionou.

Passado recente

Roger Viegas ainda aproveitou seu tempo de fala para lembrar que a última gestão também teve atitude similar, mas os resultados foram infrutíferos.

— Lembrando que no mandato passado o prefeito Vladimir também enviou um projeto semelhante para essa Câmara, inclusive na época deu muita polêmica, com o pedido de venda para mais de 250 lotes, mas apenas dois foram vendidos. Com certeza, foi um ato direcionado, pois os lotes dos bairros que mais precisavam não foram vendidos. Continuam lá, cheio de mato e ainda trazendo uma série de problemas e transtornos aos moradores — destacou.

Abstenção

Roger declarou também que se absteve da votação, pois não se sentiu confortável diante do cenário em que foi colocado. A reunião de terça-feira foi interrompida após uma solicitação do líder do governo na Câmara, Eduardo Print Jr. (SD). Na oportunidade, os vereadores discutiram no Plenarinho a necessidade de votar o projeto ainda na terça, caso contrário, a proposta perderia sua validade, pois 2020 é ano eleitoral.

— Eu tenho muito respeito por todos os vereadores e acredito que eles votaram com extremo bom coração, querendo acreditar na palavra do prefeito, mas eu não me senti confortável para votar. Não votei contra, apenas não quis aqui dar meu voto, até porque acredito que, num futuro não muito distante, isso pode trazer problemas sérios com o Ministério Público. Então deixo aqui minha indignação, porque, mais uma vez, a população pode estar sendo enganada, iludida com promessas. Não estou aqui torcendo contra, queria e ainda quero muito ver uma dessas UBS prontas nos referidos bairros, mas a justificativa pífia do projeto (...) não enganou esse vereador — pontuou.

— Deixam a “bomba” na mão dos vereadores. (...) mandam o projeto para ser votado às pressas para iludir vereador, principalmente quem é da base e tem esse compromisso com o prefeito, de ter que dar o voto favorável. Ou seja, ficam reféns. O Executivo faz seus vereadores de reféns — criticou.

Leilão

Outro parlamentar que abordou o tema durante a reunião de ontem foi o Renato Ferreira (MDB). Em seu pronunciamento, ele disse que “a previsão é de que o leilão seja feito no dia 27 de dezembro”.

Como presidente da Comissão de Saúde da Câmara, Renato disse que vai acompanhar o processo desde sua elaboração.

— Nós estamos aqui tentando levar uma qualidade de vida para esses moradores — afirmou.

Sobre o questionamento levado por Roger, o presidente da comissão disse que os imóveis sem compradores continuam como propriedade municipal.

— Não está dando imóvel para ninguém. Se não aparecer ninguém para fechar o leilão, os lotem voltam automaticamente para o Município — esclareceu. 

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