Um governo desgovernado

Edmilson Siqueira

Quando, logo nos primeiros meses depois da posse, eu comecei a criticar o governo Bolsonaro por seus notórios erros, alguns amigos, infelizmente de pouca cultura política, me perguntaram se eu queria a volta do PT. Afirmei que quem me conhece sabe da minha oposição às esquerdas em geral e ao PT em particular. Criticava, e critico, o governo Bolsonaro pelos gigantescos erros que começou a cometer, pela ignorância que propaga, pela sua negação da ciência e outros horrores mais a que assistimos diariamente. Votei em Bolsonaro justamente para impedir a continuidade petista e não me arrependo. Mas não esperava que seu governo fosse o pior que já vi na história desse país em quase 70 anos de vida.

Pois agora, com a obsessão em defender seus filhos e a si próprio de processos de corrupção (a rachadinha é um ato corrupto) e um provável impeachment, Bolsonaro partiu, descaradamente, a fazer tudo que ele prometera não fazer durante a campanha política. A aliança com o centrão é apenas a mais vergonhosa delas: acordos para entregar ministérios e cargos e distribuição de emendas são fechados em gabinetes palacianos apenas com a sinalização de que o deputado ou senador vai votar no candidato do governo a presidente da Câmara e do Senado. Além dessa relação promíscua com parlamentares, objeto de vários discursos raivosos de Bolsonaro na campanha eleitoral, como símbolo de tudo que ele queria exterminar da velha política, o governo se suja mais ainda atuando em outra ponta, essa mais específica: tem sob seu comando parte da Polícia Federal e usa as instituições de estado com a Abin, como propriedades particulares, colocando-as a seu serviço, num flagrante crime constitucional. Em outra ponta, trabalha para que a Lava Jato seja exterminada de vez.

As indicações para a Procuradoria Geral da República e para a cadeira que vagou no STF mostraram que o método Bolsonaro de indicações não foge nem um pouco ao método lulista. Se o condenado por corrupção e lavagem de dinheiro colocou um Lewandowski que não tem vergonha alguma de favorecer petistas e outros bandidos graduados, o da PGR não abre uma investigação sequer que possa resvalar em Bolsonaro, nada cobra da lentidão e até paralisação de processos contra seus filhos e faz tudo para dificultar e até encerrar os trabalhos da Lava Jato. 

Pois essas e outras ações de Bolsonaro acabaram criando um cenário, vejam vocês, propício à volta do PT ao poder. Pesquisas recentes indicam que, num segundo turno, estariam hoje à frente do ex-capitão, o ex-ministro da Saúde, Henrique Mandetta, o ex-juiz Sergio Moro, o poste de Lula, Fernando Haddad, e o próprio Lula.

Claro que pesquisas a dois anos das eleições indicam um quadro do momento, não necessariamente o quadro que se verá no segundo semestre do ano que vem, quando o eleitorado estará bem mais definido.

Mas é uma clara amostra de que as ações de Bolsonaro e seus sequazes, além de afundar o Brasil cada vez mais numa crise sem fim em todos os setores – saúde pública, economia, meio ambiente… – podem trazer de volta o pesadelo dos anos petistas.

Assim, àquela pergunta do meu amigo se eu queria a volta do PT ao poder, a resposta está sendo dada pelo próprio chefe do governo que ele tanto defende ou defendia (há tempos não nos falamos). Sim, o PT pode voltar e por obra e graça da desgraça toda que é o governo Bolsonaro.

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