Um ano e a incerteza

Editorial

Quinze dias. Este é o tempo que falta para completar um ano que o Brasil entrou no que hoje podemos chamar de "Caverna do Dragão”. Nas próximas semanas, serão 365 dias em que o brasileiro vive na incerteza do amanhã e acompanha, meio que incrédulo, o rumo que o país toma diante da pandemia da covid-19. Há quase um ano o povo foi colocado dentro de casa, sem rumo, perdido, sem orientações certas e com apenas uma mensagem: protejam-se. E foi naquela época que nós conhecemos a fundo as expressões: quarentena, não aglomerar, e fique em casa. 

O que os brasileiros não imaginavam era que a “quarentena”, que supostamente duraria 40 dias, se tornaria um pesadelo, e as consequências que ela traria para todos, sem distinção. É incontestável que a pandemia atingiu de forma imensurável aqueles que foram contaminados, que perderam familiares e amigos, mas também é imensurável a forma como a pandemia atingiu a população em geral. Desde março do ano passado a humanidade vive com medo, angustiada, nervosa e sem muitas esperanças. Um dia de cada vez, muito, mas muito planejamento financeiro, e proteção, é assim que o povo está vivendo. 

Por mais que a população tente, o medo está lá. A vacina veio e foi a grande esperança de janeiro, mas, como o Brasil é Brasil, tudo está desandando. A vacinação é feita a passos lentos e, mais uma vez, a esperança da “volta ao normal” é deixada de lado. Crianças continuam sem aulas presenciais, e a cada dia perdendo o vínculo com as escolas e professores; o setor de eventos nem se fala, já são milhares de desempregados. Os comerciantes se viram nos 30 para sobreviver. E, em meio a tudo isso, o vírus, que a cada dia ganha força no Brasil. 

A Secretaria de Estado de Saúde (SES) transferiu na última semana para o Centro-Oeste 30 pacientes do Triângulo Norte. Não há vagas nos hospitais. Não há esperanças. Não há vacina. Há luta. Apenas isso, mais nada! Ainda é impossível mensurar quando isso tudo vai acabar e, quando acabar, o que vai restar. Mas não um “restar” de bens materiais, de economia, porém, um “restar” de humanidade. Economia, bens, dinheiro, tudo isso se reconstrói. Saúde mental, bem-estar e esperança, esses são mais difíceis. 

O que restará das nossas crianças, dos nossos profissionais de saúde, dos idosos? O que restará deste povo, que não teve muitas alternativas, senão contar com a sorte, pois vive em um país sem planejamento, sem muitas políticas públicas? Só restará à população ver o sucesso da vacinação em outros países, e o recuo do vírus? “Enjauladas” em casa, só restará às nossas crianças continuarem vendo a vida correr do lado de fora? Neste momento, em que estamos próximos de completar um ano de restrições, ainda não há respostas para estas perguntas. Não sabemos também se um dia elas terão respostas. Só sabemos que a nossa única saída é continuar a “remar”. Mesmo que com medo e descrentes. Enquanto nos perguntamos “até quando”, o jeito é remar, cansados! Mas sempre remando. A luz no fim do túnel pode estar logo ali, quem sabe.

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