Um ano após primeiro fechamento, Divinópolis volta à estaca zero

Decreto da onda roxa proíbe novamente funcionamento de vários estabelecimentos na cidade

Bruno Bueno

16 de março de 2020. Exatamente um ano atrás, o então prefeito de Divinópolis, Galileu Machado (MDB), decretava o fechamento de diversos segmentos a fim de conter o avanço da covid-19 na cidade que, uma semana antes, registrou o primeiro caso positivo em todo o estado. O decreto 13.722/2020 declarou situação de emergência e proibiu o funcionamento de bares, shows, escolas, academias, igrejas, comércio e todo tipo de estabelecimento considerado não essencial.

365 dias depois do primeiro fechamento, Divinópolis vive um cenário caótico e parece ter voltado à estaca zero. Com o número de casos e mortes aumentando diariamente, o Município viu seu hospital de campanha, localizado na UPA Padre Roberto, atingir 100% da ocupação dos leitos para pacientes com covid-19.

Tal condição fez o prefeito Gleidson Azevedo (PSC), em conjunto com outros 26 representantes de cidades da macrorregião Oeste, decretar a entrada de Divinópolis na onda roxa do Minas Consciente, que também só permite o funcionamento de estabelecimentos que são considerados essenciais. A medida vai durar pelo menos 14 dias.

Decisão

A decisão ocorreu em reunião no último sábado, 13. Prefeitos da macro decidiram unanimemente ingressar seus municípios na onda roxa. A maioria dos representantes participou do encontro de maneira remota, porém, alguns vieram a Divinópolis para entender a situação pessoalmente.

Após a reunião, o veredito foi anunciado em coletiva com os prefeitos que participaram do encontro presencial. O de Divinópolis, Gleidson Azevedo (PSC), durante o pronunciamento, subiu o tom e dirigiu-se à população.

— Esta decisão não é do prefeito, ela vem de cima pra baixo. Não fizemos por vontade, mas por conta dos dados. Eu espero que a população tome vergonha na cara, porque eu prefiro mil vezes salvar uma vida do que ser reeleito. Divinopolitano e região: tome vergonha na cara. Acabou! Não adianta mais álcool em gel, é preciso o distanciamento, ele irá acontecer a partir de agora. Não depende da onda, mas, sim, da população — afirmou.

Recorrente

Segundo apurou a reportagem do Agora, esta é a terceira vez que o comércio é fechado totalmente em Divinópolis desde o ano passado. 

As recorrentes proibições de funcionamento têm prejudicado microempresários que começaram seus negócios recentemente. Thalyson Henrique, de 21 anos, abriu, há pouco mais de um ano, sua loja de roupas masculinas e já foi impedido de trabalhar diversas vezes.

— Na segunda semana em que abri a loja, já tive que fechar por conta do primeiro decreto. Me reinventei para poder sobreviver, para não fechar o negócio. Quando voltamos, eu abria a loja sem saber se no outro dia ia poder trabalhar. Eu não acho que fechando o comércio a gente vai resolver o problema, estamos cumprindo as medidas sanitárias desde sempre — afirma.

O microempresário ressalta que, apesar de ser contra o fechamento do comércio, é a favor do isolamento social.

— Eu concordo totalmente com o lockdown, porém desse jeito não rola. Se a gente tivesse um decreto que apoiasse os comerciantes, isentando os impostos e as contas nesses 14 dias, aí daria pra fechar completamente sem prejudicar ninguém. Por que, ao invés de fechar o comércio, eles não ampliam o horário de funcionamento para evitar aglomerações? — disse.

Onda roxa

A onda roxa do plano Minas Consciente permite o funcionamento somente de serviços essenciais, como hospitais, supermercados e serviços mecânicos. Das 20h às 5h, haverá toque de recolher, impedindo a circulação de qualquer pessoa que não estiver trabalhando em atividades permitidas.

O plano também proíbe a circulação de pessoas sem máscara e com sintomas gripais, além de estabelecer barreiras sanitárias na cidade. Eventos públicos e privados, além de reuniões presenciais ‒ inclusive de pessoas da mesma família, mas que moram separados ‒ também não são permitidos.

Números

Segundo números divulgados pela Secretaria Municipal de Saúde (Semusa) na tarde de ontem, o município conta com apenas duas vagas para atender pessoas com covid-19 no hospital de campanha, sendo uma no CTI e uma na enfermaria. A ala infantil tem cinco vagas disponíveis.

No Complexo de Saúde São João de Deus, a ocupação do CTI covid SUS está em 100%. Existem nove vagas na enfermaria adulta e o CTI Infantil está com 40% de ocupação. O Município confirmou, também na tarde de ontem, a morte de mais três pessoas por covid-19: dois homens, de 57 e 99 anos, além de uma mulher com 66 anos. Com estes registros, a cidade passa a ter 173 mortes em consequência do coronavírus. 

 



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