Tumulto

Editorial

As redes sociais foram tomadas por um único assunto na noite deste domingo, 28: a Santa Casa de Misericórdia de Carmo da Mata. O vereador Diego Espino esteve no hospital gravou um vídeo e publicou em suas redes sociais, dizendo que, enquanto os hospitais de Divinópolis enfrentam a falta de leitos, a Santa Casa de Carmo da Mata estava vazia, sem nenhum paciente com covid-19 internado. O vídeo do parlamentar foi como uma faísca em um rastro de pólvora. Não demorou muito para que as redes sociais fossem tomadas pelos especialistas em saúde pública, em economia, em covid-19. Quem consegue enxergar a “coisa” além do discurso barato, logo desconfiou: haveria um motivo plausível para que o hospital não recebesse pacientes com coronavírus. 

A  Santa Casa emitiu nota ainda ontem pela manhã explicando que não tinha estrutura para receber pacientes com covid-19 e que não estava incluída no Plano de Contingência do Governo do Estado, por ter um perfil de atendimento de baixa complexidade hospitalar. Até aí tudo estava dentro dos “conformes” da atual política. Um político faz uma descoberta, vai ao local, grava um vídeo, inflama a população ‒ em outras palavras “joga para a galera” ‒, sem qualquer responsabilidade social, e a instituição que arque com as consequências, afinal, a politicagem barata garantiu a eles os acessos almejados nas redes sociais. Mas o caso ficou pior quando o deputado estadual Cleitinho Azevedo foi à Santa Casa na manhã de ontem, acompanhado de Espino. 

A visita rendeu um barraco digno de novela. Mesmo proibido de entrar no local por um dos diretores da instituição, o grupo encabeçado por Cleitinho visitou as dependências, fazendo graves acusações e tudo foi transmitido por uma live. Ao chegar ao local, a provedora da Santa Casa encontrou a comitiva fazendo a transmissão ao vivo e rebateu as acusações do deputado e do vereador, e, após chamar Cleitinho de adjetivos nada bons, Petita (como é conhecida) mandou o deputado e o vereador “fazer política lá na sua terra”. Sim! Em pleno caos, no auge da pandemia, com milhares de pessoas lutando por suas vidas em CTIs, em enfermarias, e outras milhares lutando por suas empresas, ainda existem políticos que só querem “tumultuar” o processo, segundo ela. Quando o povo mais precisa de atitudes responsáveis, de atitudes que tragam resultados efetivos, o que se tem é isso: politicagem de plantão. 

O episódio ultrapassa o limite do respeito com o povo e da responsabilidade com a gestão pública, pois já está mais do que provado que vídeos não mudam a situação que Divinópolis enfrenta e que para administrar uma cidade é preciso mais do que isso. Só ontem, Divinópolis confirmou seis mortes por covid-19, chegando a 200 óbitos; e, enquanto isso, um vereador e um deputado vão a outra cidade mostrar o que não retrata a realidade, pois, como disse Cleitinho: “meu irmão está sendo crucificado porque precisou fechar comércio e estão achando que ele é comunista. Você acha que meu irmão quer fechar?”. Claro que não! O momento exige. Mas errou ao participar do espetáculo do vereador contestado pelo que disse no vídeo. O que os políticos não podem, mas é de praxe, é pregar uma coisa e fazer outra. 

 

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