Tribo Pataxó vê rio agonizar e peixes morrerem próximo à aldeia

Anna Lúcia Silva

Desde que atingiu o rio Paraopeba, os rejeitos de minério da barragem de mina do Feijão, em Brumadinho, têm devastado o meio ambiente e causado danos irreversíveis à flora e fauna de toda região. Em São Joaquim de Bicas, uma reserva indígena da tribo Pataxó, com cerca de 30 famílias, se revolta ao ver pintado de marrom o rio onde eles se banhavam e pescavam.

Ao chegar às margens do rio um forte cheiro recepciona quem visita o local. Não é preciso procurar muito para entender de onde vem o odor desagradável. Na lateral do Paraopeba vários peixes mortos e já em estado avançado de decomposição, evidenciam o resultado da destruição aquática causada pelos rejeitos.

Os índios que têm origem do Sul da Bahia se mudaram para São Joaquim de Bicas em busca de saúde, comercialização de artesanato e recursos naturais. O rio fica a cerca de 200 metros da reserva onde há moradia para as famílias. A água para consumo não é captada do Paraopeba, mas era nele que crianças, idosos e jovens tomavam banho, lavavam suas roupas, se divertiam e pescavam. Hoje, nada disso é possível.

Em declaração o cacique Hayô, reforça sua tristeza, em nome de todos, ao ver o rio agonizar e toda vida aquática padecer pela contaminação dos rejeitos de minério.

— Eu declaro que estamos com uma tristeza enorme no coração e na mente por não poder mais utilizar essa água para pesca, para o banho e as outras atividades. Ficamos tristes quando nossas crianças e nossos anciões perguntam a gente se podem ir ao rio para o banho e nós não permitimos por essa tristeza que está sobre a aldeia. Estamos muito tristes não só pela nossa nação Pataxó, mas por vários moradores que estão na superfície do rio. Se não bastasse, estamos acompanho o sofrimento dos animais e peixes que a cada dia morrem mais —, disse.

O cacique ainda reforça que tem recebido atenção de órgãos governamentais responsáveis pelas causas indígenas, no entanto, teme que sua comunidade caia no esquecimento com o passar dos dias.

— Agora estamos recebendo apoio e gostaríamos de continuar tendo essa atenção. Não sabemos se quando a maré baixar se eles vão continuar nos ajudando —, destacou.

Monitoramento da água

Quem mora no trajeto do Paraopeba teme a falta de abastecimento e a contaminação da água. Por isso, Agência Nacional de Águas (ANA) tem monitorado o rio em diversos pontos. Em Pará de Minas, a empresa Águas de Pará de Minas emitiu um alerta no domingo, 27, informando que foram identificadas alterações nos padrões de qualidade da água bruta do rio. A alteração, segundo a nota, é decorrente dos rejeitos de minério.

Devido à aproximação dessa água ao ponto de captação do Sistema de Abastecimento localizado no distrito de Córrego do Barro a empresa informou que manterá a população e imprensa informada, caso seja necessário a interrupção da captação.

A Vale noticiou que teve início nesta terça-feira, 29, a instalação de uma membrana para a retenção de sedimentos minerais antes do ponto onde a água é captada para abastecer os moradores de Pará de Minas.

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