Tornamos-nos reféns ou acostumados ao caos

 

Divinópolis beira um caos na segurança pública devido à falta de delegados na Polícia Civil (PC), mas nós nos habituamos. Enfrenta uma “zorra total” na política, mas nós nos acostumamos. Perde cada vez mais seu papel de destaque, mas nós simplesmente não fazemos nada. A cidade clama por socorro, mas já faz parte na rotina. Habituamo-nos ao obscuro, à algazarra e muito mais. Sim! A desordem já não é mais algo insano, é rotina. Esse é o nosso cotidiano nos últimos anos. Acordamos todos os dias já esperando qual será a má notícia do dia, que nos levará ao ridículo mais uma vez. Uma das últimas é sobre a segurança pública, que não estrutura as polícias como deveria, neste caso, especialmente a Civil, crucial na atuação após a Polícia Militar (PM). E, como nos acostumamos ao controverso, ao silêncio, à inércia, só nos restou falar, falar e falar, apenas isso. Hoje vamos falar dos 23 mil inquéritos que aguardam conclusão na Delegacia de Polícia Civil em Divinópolis. Enquanto isso, nem resposta chegou à Câmara Municipal sobre o questionamento que os 17 vereadores fizeram ao Estado a respeito do descaso para com a PC local. O caos, que se instalou sorrateiramente na cidade que já foi a 5ª melhor para se viver em Minas Gerais, está teimando e persistir.

Que Divinópolis já deixou a coroa cair há muito tempo, isso todos sabem, mas o que muita gente nem imagina é que a sujeira escondida debaixo do tapete, e que aos poucos se torna pública, mostra que a bagunça política é só a ponta do iceberg. De acordo com estudos de 2009, a Delegacia Regional de Divinópolis deveria ter 16 delegados, mas, desde dezembro de 2017, o efetivo vem sofrendo baixa. Hoje, a Regional conta com apenas quatro, sim, isso mesmo, quatro contando o chefe regional, que vem atuando com os demais para não deixar a cidade e região desguarnecidas. Além de Divinópolis, atuam em Cláudio, Itaúna, Itatiaiuçu e Carmo do Cajuru. Ou seja, cerca de 400 mil habitantes aos cuidados deste mísero efetivo que se desdobra para dar conta do recado.

E a situação só piora, quando este sucateamento da Polícia Civil reflete diretamente na PM. Segundo o Grupo Gestor de Divinópolis, formado por várias entidades, os policiais militares precisam ficar por longas horas aguardando a lavratura dos flagrantes, entregas de ocorrências e atendimento à população, o que estaria prejudicando o policiamento ostensivo na cidade. Mas, fazer o quê? Habituamo-nos. Colocamos grades em nossas casas, câmeras de circuito interno, fazemos seguros e mais seguros e nos tornamos reféns. Reféns do medo. Acostumamo-nos de todas as formas perante a ineficiência do Estado. Escolhemos horário para sair e quando saímos, pedimos para voltar vivos para casa.

Saímos de carro, mas não sabemos se voltaremos no fim do dia para casa, vivos, machucados ou com ele. Assim como os 23 mil inquéritos que estão parados, estamos parados, inertes, reféns. Aguardamos pelo dia em que teremos eficiência. Em que teremos respostas. Em que o nosso dinheiro retornará para nós. Até lá, continuamos habituados ao caos.  

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