Todos os natais do mundo

Apesar de originar-se de um só e mesmo acontecimento, o nascimento de Jesus, a festividade universal que chamamos de Natal reveste-se de grande pluralidade. Nem seria de outro modo, porque os homens, as mulheres e o mundo são plurais. Por isso, conforme as culturas e tradições locais, a festa natalina concretiza-se de muitos modos.  

Mas não só isto. Simone de Beauvoir escreveu: “Dentro dos templos, os cristãos se abraçam e chamam-se de irmãos. Mas não é lá que a vida transcorre”. Embora tente-se ocultar, é fato que as sociedades são divididas em classes, com mentalidades e interesses antagônicos, e é nelas que transcorrem nossas vidas. Isso reflete-se em todas as situações, inclusive nos momentos festivos. Conforme a classe social, uns festejam o Natal em salões bem decorados, com presentes caros e a mesa farta das melhores iguarias, desde o tradicional peru aos vinhos e champanhes importados. Outros terão um cardápio modesto, regado a cerveja, guaraná e vinhos baratos. Outros celebrarão apenas com a cesta natalina ganha em alguma campanha de solidariedade. Os religiosos solenizam o Natal com orações, leituras bíblicas e cantos. Outros, enfim, nos seus tugúrios ou debaixo de pontes e viadutos, simplesmente não festejam. Têm como companheiros a fome, a indiferença e o abandono, a exclusão de todos os dias e noites. Como será o Natal na favela paulistana de Paraisópolis, que esteve nas manchetes da imprensa nas últimas semanas?

Mas vejamos outro lado. Próximo do “réveillon” e do Carnaval, o clima do Natal contamina-se com o clima desses eventos. Não por mero acaso, existem os genéricos votos de “boas festas”. É bem provável que muitas ceias natalinas terminem em Carnaval.

Fato é que, há cerca de dois mil anos, nascia na Palestina um menino. Não se conhecem a data nem o local certos daquele nascimento. Mas convencionou-se celebrá-lo como ocorrido em Belém da Judeia, aos 25 de dezembro. O menino chamou-se Yeshua. Em latim e em outras línguas, Jesus. A criança iria tornar-se um homem polêmico e decisivo para os rumos da história de grande parte do mundo. Foi reconhecido como Cristo, isto é, ungido de Deus, salvador, messias. Sua pessoa, vida e morte, os atos e palavras atribuídos a ele deram origem ao movimento religioso, cultural e político que chamamos de cristianismo.

Enfim, não há dúvida de que a festividade natalina estará, mais uma vez, em todas as suas formas, movimentando o mundo e bilhões de pessoas. Seria interessante indagar se existe alguma ideia ou sentimento capaz de estabelecer unidade ou relação entre todos os natais do mundo. Será um bom exercício de reflexão. [email protected]

 

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