Tempestades

João Carlos Ramos

A fenomenal obra teatral de William Shakespeare intitulada “A Tempestade” retrata uma história de vingança, amor e suas trágicas consequências. Foi sua última criação literária, pois intuitivamente percebia que a tempestade de sua  morte se aproximava.

A alma vinga-se do corpo, arrebatando sua essência para o desconhecido e precipitando-o no caos sepulcral. Viemos ao mundo por uma tempestade de amor de nossos pais e se faz mister a bonança da despedida. A morte sela o acordo divino de que "És pó e ao pó voltarás”... Pense bem se o homem, cruel, continuasse sua jornada! A verdade que não quer calar é das tempestades da vida e nosso despreparo e como acima citado, tempestade maior que é nosso silêncio eterno. Na referida obra, Próspero planeja e executa a restauração de sua filha Miranda ao trono, após ter sido desterrada por uma sedição.

São múltiplas as lições da obra do imortal dramaturgo inglês. Há poucos dias, Divinópolis teve uma pequena demonstração do horrendo sabor de uma tempestade literal, quando foi surpreendida por fortes ventos que causaram inúmeros danos materiais e pânico geral. O mundo foi surpreendido pela covid-19 no raiar do ano de 2020, cujas consequências são imprevisíveis.

O desemprego e o divórcio abrem sulcos profundos no seio da sociedade e a tempestade não cessa no acerto ou no cartório. Colhemos durante toda a vida os efeitos dessas tempestades.

Meditemos na tempestade de ex-amigos, cuja ganância e outros interesses secundários sepultaram a confiança e desnudaram intimidades... Inocentemente, colocamos todas as cartas na mesa dos amigos e de corpo e alma na pessoa amada. Quero destacar aqui uma tempestade que se aproxima, embora muitos a considerem dentro da normalidade: as eleições de 2020.

Estamos em plena pandemia que beneficia alguns e prejudica muitos... As eleições de 2018 foram completamente atípicas e culminaram com a vitória de Bolsonaro, cuja onda levou inúmeros nanicos à vitória. A onda bolsonarista foi sucesso, como a onda de Fernando Collor de Mello, futuramente desmascarada. Em Divinópolis, um número extravagante de prefeitáveis tenta chamar a atenção do eleitor para mudanças óbvias e urgentes. Percebemos que o vaticínio de dom Pedro II que consta no livro “A Maldição do Imperador” também se cumpriu em Divinópolis.

De forma unânime, Antônio Martins foi o prefeito que obteve mais sucesso administrativo da história do município e morreu de forma trágica. Após ele, os governantes falharam miseravelmente, não atraindo grandes empresas por incompetência e motivos obscuros. Hoje temos uma cidade com 238.230 habitantes, conforme o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Somente em 2020 houve um aumento de 11 mil novos desempregados e, segundo a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), 340 empresas fecharam as portas em Divinópolis. Quando a tempestade eleitoral passar, veremos vários degolados e alguns felizes. Amigos de infância se tornarão inimigos por nada, enquanto em alguns pontos haverá choro e ranger de dentes. A festa dura pouco e ficará a lição. Já vimos esse filme antes. Tempestades maiores virão!

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