Técnicos brasileiros em baixa

Batendo Bola

 

José Carlos de Oliveira

 

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Técnicos brasileiros em baixa

Que essa relação dos treinadores com os clubes e torcidas no futebol do Brasil estava para ter um desfecho nada feliz para o lado dos profissionais era algo que todos sabiam, mas ninguém queria admitir. Era apenas uma questão de tempo para ela explodir. À boca pequena, a maioria até sabia o que estava por vir, mas se fazia de cega para não encarar de frente a realidade.

 

Casamento ruiu

O casamento dos técnicos de futebol com os clubes, as torcidas e mesmo parte da imprensa vinha se deteriorando faz tempo, e mais dia menos dia algo iria mesmo acontecer para mudar esse quadro. Só que ninguém, nem mesmo os mais entendidos do assunto, esperavam que fosse algo tão radical assim, com os profissionais brasileiros sendo sistematicamente preteridos por treinadores estrangeiros.

 

Muitos motivos

A corda arrebentou de vez para o lado dos profissionais e agora eles terão que suar sangue para reconquistar a credibilidade perdida. E não adianta nem eles apontarem o dedo, indicando culpados, pois foram eles mesmos (ou pelo menos a maioria deles) que se meteram nessa enrascada. E por motivos diversos.

 

Custo benefício

Para começar a destrinchar essa relação, vamos falar primeiro no lado que sempre dita as regras, que vem em primeiro lugar, que é o custo benefício. No decorrer dos últimos anos, décadas até, os treinadores brasileiros estavam se sentindo os donos do pedaço, as estrelas da companhia, e cobravam pequenas fortunas para assinar os contratos, respaldados na verdade de que, se desse certo, tudo bem, mas, se não, para eles pouco importava, porque a grana do fim do mês estava garantida. Recebendo ou não o pé no traseiro, a conta bancária sempre seria acrescentada de alguns milhares (e nem é de reais, não, é de dólares mesmo). 

O custo benefício nem sempre era igual para os dois lados. Enquanto alguns profissionais ficavam milionários, os clubes se viam reféns deles, porque muitas diretorias acompanham suas torcidas, e essas nem sempre sabem onde mais aperta o calo. Contratam e demitem treinadores das arquibancadas e os times que se virem para atendê-las. E, sabendo disso, muitos treinadores jogavam para a galera, faziam média com os torcedores, porque sabiam bem que eles, sim, eram os seus verdadeiros patrões, seria a torcida que os manteria ou não nos cargos.

 

Exigentes

Mas a relação chegou a tal ponto de ser maléfica para os clubes, porque muitos treinadores só queriam saber de trabalhar com atletas conhecidos, amigos. Nem bem assinavam os contratos e já vinham com a relação de “reforços” que queriam. Os clubes faziam a sua vontade, depois os mandavam (os treinadores) embora e tinha que engolir o abacaxi, afinal, assinaram contratos e teriam que cumpri-los, e tinham que ficar com jogadores que nem sempre rendiam o que o clube precisava.

Essa é, sim, uma grande verdade, e a principal causa do descrédito de muitos treinadores. Eles nem sempre buscam jogar com o que o clube tem, e sim com o que querem. 

Agora que se virem para reconquistar seu espaço.

 

Cruzeiro e Atlético entram na onda

E aqui pelas bandas das Minas Gerais, os dirigentes parecem seguir o pensamento da maioria dos times do Brasil e já esquecem o mercado interno para focar suas atenções em outros países quando buscam novos treinadores ‒ os atuais comandantes de Raposa e Galo estão aí para atestar esta verdade. Só que estão se arriscando muito. Pode até dar certo, mas, se não, estão com um baita de um pepino na mão. 

O argentino (no Galo) e o uruguaio (no Cruzeiro) são ilustres desconhecidos e até seria leviano falar que não darão certo, mas que a aposta foi muito alta, isso foi. Aqui no futebol brasileiro, e mais ainda nas Minas Gerais, os resultados contam mais que o trabalho, e as torcidas querem vitórias para ontem, doa a quem doer.

 

Grande risco

E aí está o perigo. O argentino “turco” Antônio Mohamed e o uruguaio Paulo Pezzolano são duas apostas das diretorias, e as torcidas não querem saber de nada, vão cobrar da mesma forma.

 

O futuro dirá

E aí, como fica? Somente o tempo dará a resposta, mas, para o bem de todos, torçamos para que vá tudo às mil maravilhas para as bandas da Toca da Raposa e da Cidade do Galo, não pelos profissionais, mas, sim, pelos homens, seres humanos, que desconhecem onde se meteram e nem de longe imaginam o tamanho da cobrança que cairá sobre suas cabeças.

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