Tarde

João Carlos Ramos - Tarde

 

(É tarde! É muito tarde! O templo é negro...

O fogo santo já no altar não arde. - Castro Alves /Espumas flutuantes.)

O grande poeta dos escravos, Castro Alves, empunha sua lira para anunciar que o sol havia ido descansar. A noite do cativeiro cobria o Brasil com seu manto tenebroso. Ao mesmo tempo, ele também dizia em outro poema: "Não precisa de ti! O gaturamo geme por ele à tarde no sertão. E a juriti do taquaral no ramo povoa soluçando a solidão". Arrebatado pela inspiração, ele chorava por causa da maldade dos homens que escravizavam outros semelhantes apenas por causa da pele. Ao mesmo tempo, havia um prenúncio de dias piores, quando surgiriam outras escravidões impensadas.

Trazendo esse poema para nossos dias pandêmicos de 2021, podemos afirmar que nunca foi tão tarde... O verde-amarelo de um lado, o vermelho do outro,

e o povo crucificado no meio. Nunca vivemos um tempo de tanta carestia e tanta miséria espiritual. Discursos inflamados apregoavam dias de fartura e paz, mas podemos constatar totalmente o contrário. Religiosos maculando o sagrado, dando ouvidos ao divisor de águas e a tempestade querendo voltar. A praça era do povo, como o céu é do condor. Agora a praça é da mentira.

Realmente podemos dizer que "É tarde! É muito tarde! O sol da juventude desprezando o amanhã. As mulheres fugindo da grande missão de amar.

Mentiras de todos os lados e todos acreditando em todos. Chuva de sangue encharcando os jornais e o povo se extasiando e, ao mesmo tempo, condenando. Colocam nas costas da covid-19 o fardo pesado da incompetência. O mais triste é que não há saída na política e nem na religião, os dois pilares da sociedade do bem. O novo cativeiro se instala e não há outro Castro Alves para cantar nossas mágoas e nem outra princesa para assinar outra lei. A meu ver, em 2022, haverá completa escuridão e seremos novamente enganados e enganaremos despropositadamente.

Infelizmente... É tarde! Será muito tarde!

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