Somos todos caminhoneiros?

 

Do grego pathos, paixão significa: excesso, catástrofe, passagem, passividade, sofrimento, assujeitamento, sentimento e doença. Em outras palavras, a paixão cega. Cega o ser humano e tira dele a capacidade de racionar, de pensar de uma lógica e objetiva. Há pouco mais de um mês, milhares de caminhoneiros iniciaram uma greve em todo Brasil e fecharam as principais estradas do país. O movimento, que teve como principal reivindicação (justa!) a redução do preço do diesel na bomba, ganhou apoio de maioria dos brasileiros, que adotaram em suas redes sociais a campanha “Somos Todos Caminhoneiros”.

A paralisação durou 11 dias e o caos foi estabelecido no Brasil. Os combustíveis chegaram a acabar nos postos, e alimentos nos supermercados. Mesmo com esta situação, a população seguia apoiando os caminhoneiros e deu a eles o título de heróis. Além da redução do diesel na bomba, os motoristas pediam também a isenção do pagamento de pedágio dos eixos que estiverem suspensos; a aprovação do projeto de lei 528 de 2015, que cria a política de preços mínimos para o frete; e a criação de um marco regulatório para os caminhoneiros.

Sem entender muito bem, sem aprofundar no assunto ou procurar saber do que tratavam as reivindicações, os brasileiros apoiaram e acreditaram firmemente que a greve salvaria o país das mazelas da política. Porém, além de não salvar o Brasil da corrupção, o movimento piorou a situação econômica do país e mostrou a falta de “pulso” do Governo Temer para administrar. De início, Michel Temer (MDB) e seus ministros não botaram fé na greve e só começaram a negociar quando a coisa ficou feia. Logo no início das negociações, Temer e seus ministros abriram todas as brechas para os caminhoneiros e deram aos grevistas força para exigir cada vez mais.

Pouco mais de um mês se passou do fim a greve, e o que restou? Quem foi beneficiado com a paralisação? Qualquer um que tenha carro movido a diesel — no caso, os carros de luxo —, porque os donos dos carros populares, movidos a gasolina, continuam pagando — e calados — R$ 5 pelo litro da gasolina. Mas a situação vai muito além de continuar pagando tão caro pelo combustível. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a greve dos caminhoneiros atingiu a produção industrial brasileira, que teve a sua pior queda em 10 anos. Segundo o instituto, a indústria registrou retração de 10,9%.

Conforme explicou o gerente da pesquisa, André Macedo, a paralisação desarticulou toda a cadeia de produção. Em um efeito dominó, a greve causou quedas recordes em bens de consumo duráveis (-27,4%) e de semiduráveis e não duráveis (-12,2%). Para muitos, esses são apenas números. Alguns sequer irão compreender o que isso significa, mas o economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Joelson Sampaio, explica em breves palavras que a queda de mais de 10% na produção é um efeito negativo para a economia de forma geral.

A greve dos caminhoneiros não conseguiu atender a população de uma forma geral, assim outras diversas manifestações feitas a esmo. Isso só mostra que o brasileiro quer mudança, mas ainda não sabe o que quer mudar, muito menos como mudar e que ir sem eira nem beira não é o caminho certo para essa tal mudança. Servir como massa de manobra não tirará o Brasil da lama.

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