Sinal vermelho no horizonte

É hora de Divinópolis, confirmando sua liderança, propor à região uma estratégia de enfrentamento da cada vez mais grave pandemia de covid-19

Por Márcio Almeida Jr.

Raciocinando sem pessimismo catasfrofista, mas também sem otimismo negacionista, parece razoável concluir que não pode ser definitivamente excluído o risco de o sistema de saúde divinopolitano colapsar nas próximas semanas em razão do agravamento da pandemia de combate à covid-19, a exemplo do que vem ocorrendo nos níveis estadual e nacional. A possibilidade foi considerada pelo próprio secretário municipal de Saúde, Alan Rodrigo, em entrevista concedida ontem e disponibilizada no perfil do Agora no Instagram. Mantendo-se a mesma distância em relação aos pessimistas e os otimistas, também parece razoável supor que há meios de evitar que esse colapso se instale.

O risco está desenhado nos fatos, tanto no nível estadual quanto no nacional, e pode ser visto por quem não se recusa a vê-los. Em nível estadual, até o Governo Zema, em geral oscilando com pouca firmeza entre intensificar e abrandar medidas de controle, viu-se no dever de reestruturar de novo seu cada vez mais remendado programa Minas Consciente, que agora tem uma onda roxa entre as que classificam o risco epidemiológico das cidades que aderem aos protocolos. Em nível nacional, vê-se que a tragédia, antes vista em locais distantes como Manaus, agora está em municípios do vizinho estado de São Paulo, como Araraquara, e em tantos outros onde a taxa de ocupação de leitos hospitalares superou a linha do aceitável. Nessas cidades, como têm alertado os especialistas, já se temem cenas como as da Itália no primeiro semestre de 2020, quando era preciso escolher entre os doentes graves os que teriam a sorte de ocupar vagas nos hospitais e usar respiradores mecânicos. Para Divinópolis, que nesta semana tem níveis assustadoramente altos de ocupação de leitos de CTI destinados a pacientes de covid-19, é esse tipo de situação que ameaça bater à porta, como admitiu o secretário de Saúde em sua fala ao Agora

A possibilidade de evitar tal risco está diretamente relacionada ao entendimento de suas causas e ao papel do Município no combate à pandemia. Quanto às causas do agravamento, é desnecessário dizer que são múltiplas. Como se sabe, elas vão desde as aglomerações que boa parte da população insistiu em fazer no fim do ano passado, contra todas as insistentes recomendações, até a hesitação de governos estaduais e municipais que tentam fazer a ilógica conciliação de medidas contraditórias como desregulamentar atividades presenciais não essenciais e reduzir o número de pessoas em circulação. Tais causas, obviamente, passam por um presidente da República com o pior desempenho mundial em política de imunização, que começou atrasada e segue a passos de tartaruga no Brasil, e por um ministro da Saúde especializado em logística militar cuja equipe confundiu Manaus e Roraima no momento de evitar lotes das minguadas vacinas obtidas até agora pelo governo.   

Assim, a solução para evitar o colapso seguramente passa pelo Município. Parece haver a necessidade, em primeiro lugar, de reforçar a luta pela ampliação das vagas disponíveis de CTI. Indiscutivelmente útil, a ampliação do número de vagas não é, porém, suficiente, na medida em que só trata o problema já instalado. Nesse sentido, é hora de pensar com seriedade na decretação de medidas mais severas de restrição do convívio, tais como as previstas na onda roxa. O próprio secretário Alan Rodrigo considerou essa possibilidade, acrescentando, porém, que, a seu ver, de pouco adianta que apenas Divinópolis faça a adoção dessas medidas quando o entorno não as realiza. Assim, segundo ele, seria necessário um entendimento entre gestores municipais de Saúde da região para definir uma estratégia conjunta. Essa não é uma fala equivocada. É verdadeira, por certo, pois a cidade não está isolada e sim dentro de um contexto, mas não contém a verdade toda. Também é verdadeiro que cabe a Divinópolis, interessada diretamente nas medidas, dada a gravidade crescente de sua situação quanto à covid-19, liderar, por seu prefeito e seu secretário, o movimento que se espera para a região. Afinal, não é esta a Princesa do Oeste? Não lhe cabe, como cidade maior e mais bem estruturada da região, esperar que venham de outros as medidas, assim como não lhe cabe deixar de apresentar com urgência um plano de enfrentamento interno, baseado em uma fiscalização sanitária e em uma série de medidas de estímulo à contenção do convívio muito mais amplas do que a que tem sido feita até agora e muito mais abrangentes do que sugerir cautela à população. É hora de liderança. Com a palavra, pois, os líderes divinopolitanos.     

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