Simples assim...

Leila Rodrigues

Parece tão simples dar tudo certo! Parece simples dormir bem, acordar cedo, fazer atividade física todos os dias, comer corretamente, trabalhar, fazer o bem, voltar para casa feliz, cuidar das plantas, brincar com o cachorro, jantar com a família, agradecer o dia e dormir novamente. É tão simples que assusta. Assusta saber que nós complicamos tudo. Nós conseguimos deixar tudo mais difícil. 

Já dizia Cortella, que “a simplicidade é o mais alto grau de sofisticação”, e é mesmo. Como é difícil conseguir um dia simples no meio dos nossos dias abarrotados de coisas?  É que no caminho existem as surpresas, as pessoas, as intenções, os problemas e os excessos.

Um dia algum anjo malvado soprou nos nossos ouvidos e disse que precisávamos conquistar o mundo. Que ótimo! Lá fomos nós à luta. Como bravos guerreiros saímos desembestados querendo tudo de uma vez. A casa, o carro, o diploma, o cargo, a viagem e depois a maior casa, mais um diploma, uma viagem mais longa, a cadeira mais alta. 

Vivemos a era dos excessos. Excesso de informação, excesso de luz, excesso de compromisso, excesso de pensamento, excesso de desejos. 

O que faz o simples ficar tão complicado são as nossas vaidades, as competições ridículas que criamos dentro de nossas próprias cabeças e as alimentamos todos os dias. Não basta ser bom, é preciso ser melhor que o outro. Não basta ter dinheiro, é preciso ter mais dinheiro que o outro. Não basta chamar a atenção, é preciso ter todas as atenções para si. E cada vez que deixamos a vaidade agir, distanciamos silenciosamente do verdadeiro simples. Porque a simplicidade conhece nossas verdadeiras intenções. Não há como fingir com ela! 

E, assim, chegar ao simples virou privilégio dos que já se esfolaram um dia tentando ser sofisticados e perceberam que a melhor cadeira é a da cozinha de suas casas. Fica simples depois que você percebe que todos os seus esforços são para ter um pouco de sossego. E você passa a querer mais tempo, não para fazer mais, mas para fazer menos. É correr para ter mais tempo para ver o tempo passar. Louco isso não? 

Ter mais tempo para curtir a trepadeira que floriu, o filho que chegou de viagem, a comida que o amigo fez ou a história que o pai gosta de contar. Mas isso é simplicidade, e por isso mesmo é tão difícil conseguir. Cortella tem razão: simplicidade é vencer de verdade as barreiras da vaidade e isto, sim, é o mais alto grau de sofisticação.

 

 

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