Sentir na pele

Preto no Branco 

Um vídeo que viralizou no último domingo retrata bem a dor das famílias quando se perde um ente querido para a covid-19. Sem poder velar o corpo e sequer ir ao cemitério acompanhar o sepultamento, parentes de um homem de 41 anos, de Vespasiano, na grande Belo Horizonte, pediram ao motorista do carro funerário que parasse pelo menos por alguns segundos na porta do cemitério para o último adeus.  De longe, do outro lado da via, os parentes deram o último adeus à vítima, jovem e sem comorbidades.

Diante de situações assim fica a pergunta: é isso que as autoridades querem esconder ao proibir ou omitir a verdade sobre os números da doença? Ou vão precisar sentir na pele a perda de alguém muito próximo para se compadecer pela dor do outro?

Falta de respeito 

Este é sentimento, sem dúvida, da população brasileira que paga os impostos mais caros do mundo para mordomia dos “poderosos”. E recebem o que de volta? Um tapa na cara. Informações de como este dinheiro é gasto é obrigação destes que brincam de governar. O novo coronavírus está aí para escancarar esta realidade. Após alterar a divulgação de mortes e infecções por covid-19, e completar com piadas de mau gosto, o Ministério da Saúde (MS) divulgou no último domingo, 7, números contraditórios sobre a doença. Às 20h37, as informações oficiais repassadas eram de 1.382 novas mortes em 24 horas (um recorde para um domingo) e 12.581 novos casos de infectados, no mesmo período.

Entretanto, às 21h50, a plataforma oficial trazia dados diferentes: 525 novos óbitos e 18.912 outros casos confirmados de sábado para domingo. Bagunça sem explicação, sem o mínimo de respeito ao povo já tão sofrido e descrente com a disseminação do vírus sem controle país afora. 

Desordem total

“Panela que muitos mexem sai sem sal ou salgada.” Ditado que ilustra bem a situação vivida no principal comando político do país. Três pessoas no Ministério da Saúde, o último interino, que de saúde não entende nada. E pior do que isso é ter que fazer o que outros que sabem menos ainda mandam. Só pode terminar em subnotificação acima do tolerável, indicação de medicamento para a doença que não faz nenhum efeito e erros grotescos como o de domingo. Não foi à toa que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que se seu país tratasse a pandemia como no Brasil, até 2,5 milhões de americanos teriam morrido. E olha que ele não “bate bem das bolas”.  

Induz ao erro 

Os números divulgados mais tarde estavam mais próximos dos relatados pelas secretarias estaduais de saúde. Além disso, por causa dos atrasos e a proibição de se divulgar a somatória, grupos independentes começaram no fim de semana a fazer levantamento próprio. Só poderia terminar nisso.  Soma daqui, soma de lá, a diferença de mortes nas últimas 24 somou 857. Neste caso, felizmente foi para menos. 

Por aqui também 

A situação em Minas Gerais e Divinópolis não é muito diferente. Uma coisa reflete na outra. A subnotificação é gigantesca, principalmente pela falta de testes. E, sem dúvida, no Estado e no Município, tanto os números de confirmações quanto os de mortos são muito maiores. Realidade que preocupa a Associação Mineira de Municípios (AMM). O presidente Julvan Lacerda cita entre outros fatores a falta de de recursos do governo federal e ausência de transparência na divulgação dos resultados.

Quando ele diz que, mesmo que os municípios tenham estruturado, o interior não está preparado para enfrentar a pandemia, está coberto de razão. Na nossa cidade, por exemplo, se recomenda ou determina uma série de restrições, mas a fiscalização deixa a desejar. O que deve piorar ainda mais a partir de hoje, quando o comércio todo foi liberado para funcionar. Claro que ninguém estava esperando, de última hora, enfrentar um inimigo invisível e tão perigoso, mas que falta comando, diálogo e a inabilidade nas  gestões, ah, isso não resta dúvida!  

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