Sem conseguir tratamento, idoso perde maior parte da visão e cobra respostas

Ricardo Welbert 

Descobrir que perdeu 80% da visão de um olho e 70% da visão do outro. Esse é o drama do artista plástico aposentado João Batista da Silva, de 67 anos, morador do bairro Bom Pastor. Ele procurou o Agora em busca de uma oportunidade de contar sua história e cobrar soluções aos órgãos públicos da área da saúde.

João Batista diz que há quatro anos começou a comparecer ao Hospital São João de Deus (HSJD) uma vez a cada três meses para tratar de glaucoma – doença do nervo ótico que, quando não tratada desde a fase inicial, pode levar à cegueira. Em agosto do passado, ele e outros pacientes ficaram sem atendimento, que foi suspenso e ainda não voltou.

— Fui informado de que a empresa que prestava o serviço não quis renovar o contrato como hospital e que, por isso, as consultas não seriam mais oferecidas — conta.

Sem dinheiro para pagar pela consulta e pelo colírio que recebia no hospital, ele não fez o exame trimestral do qual precisava e ficou sem o medicamento, cujo preço médio é de R$ 210 a unidade.

— Infelizmente, não tenho condições de comprar sempre, porque uso três vezes ao dia. O colírio acaba rápido e não é sempre que tenho o dinheiro para comprar — desabafa.

Segundo a Academia Nacional de Medicina, para que o glaucoma seja controlado, o paciente precisa seguir corretamente o tratamento, usar os colírios indicados e documentar a evolução do tratamento por meio de fotos.

João Batista da Silva perdeu quase toda a visão (Foto: Ricardo Welbert)

Surpresa

 Já neste ano, João Batista contou com a ajuda de uma filha para se consultar na rede particular. Ao conversar com o oftalmologista, recebeu a triste notícia: ao longo dos quatro anos de tratamento, o paciente perdeu 80% do campo visual em um dos olhos e 70% no do outro.

— Fiquei até deprimido. Como foi possível que em tão curto período eu tivesse essa grande perda? O prontuário das minhas consultas no HSJD mostram que exames que fiz em 2016 já revelavam a perda. Então, por que a equipe médica que me atendeu não me notificou sobre isso, uma vez que os colírios não resolviam meu problema? Como não conseguiram identificar essa perda visual? E agora? Quem vai me indenizar? — questiona o paciente.

Outros lados 

Procurado pelo Agora, o HSJD informou que abriu uma apuração interna para verificar os motivos da evolução da doença do paciente. O resultado deverá ser encaminhado à reportagem hoje.

Sobre a suspensão dos atendimentos oftalmológicos no HSJD, a Prefeitura de Divinópolis informou em novembro que “cumpriu rigorosamente o convênio com o HSJD”, que custava cerca de R$ 300 mil por ano e atendia a cerca de 280 pacientes.

— Depois de tanto tempo contribuindo aos governos com impostos, é frustrante não receber gratuitamente um atendimento de qualidade e saber que a minha doença piorou. As autoridades estão cegas — lamenta João Batista da Silva.

 

 

 

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