Secretário esclarece regressão de onda

Desde terça-feira, cidade está na amarela; diversos setores foram obrigados a fechar; prefeito vetou algumas decisões

Matheus Augusto

Divinópolis está de volta à onda amarela. Como consequência, uma série de medidas restritivas foram aplicadas na cidade com o intuito de frear o avanço da covid-19. O secretário de Saúde, Amarildo Sousa, e a diretora da Vigilância em Saúde, Janice Soares, destacaram ontem as principais preocupações e metas diante do atual cenário. Dentre os objetivos estão preparar a rede pública de ensino para o retorno das aulas no próximo ano, restringir a circulação do vírus e retornar à onda verde. 

Ensino

Os municípios de Minas Gerais classificados na onda verde puderam, no último dia 5, autorizar aulas presenciais do ensino básico ‒ infantil, fundamental e médio. A expectativa era de que, em Divinópolis, ao menos parte das escolas particulares retomassem, de forma gradual, a modalidade. Com o regressão de onda, a possibilidade foi adiada.

— Na onda amarela, isso não é permitido — explicou o secretário.

A rede municipal de ensino ainda não tinha data para receber os alunos. A Prefeitura havia decidido estruturar todas as unidades conforme as normas de prevenção. Apenas após a conclusão dessa etapa, as aulas presenciais seriam autorizadas, em um primeiro momento, somente com estudantes do 3º ano. Mesmo na onda amarela, esse trabalho continuará.

Para a responsável pela Vigilância em Saúde, é fundamental garantir o funcionamento do ambiente escolar, dada a existência de relatos de “crianças com problemas psicológicos e sociais por causa do isolamento”. Segundo ela, ao irem para o trabalho, os pais têm deixado seus filhos em “locais clandestinos” e com pessoas “desqualificadas” para oferecer o cuidado adequado.

— Passou da hora de pensarmos nas nossas crianças e oferecer escola para elas no próximo ano. (...) Precisamos nos unir para trabalhar pelo funcionamento das nossas escolas — afirmou.

Janice ainda detalhou a existência de uma janela de oportunidade para esse trabalho nos meses restantes do ano. A expectativa é de um período de baixa incidência durante as estações primavera e verão, devido ao calor, conforme apontam as análises internacionais. A intenção é aproveitar esse momento para investir em prevenção, na readequação das rotinas dado o novo contexto e “ensinar as crianças esses novos hábitos” de prevenção. 

— Precisamos cuidar do nosso futuro, das nossas crianças — destacou.

Essa preocupação, completou Janice, levou o Comitê Municipal a adotar regras mais rígidas do que as impostas pelo Minas Consciente, a fim de assegurar a estabilização e redução dos dados. Assim, quando retornar à onda verde, a expectativa é que Divinópolis possa permanecer nela por mais tempo, garantindo o retorno das aulas presenciais.

Alerta

O secretário de Saúde citou os índice de transmissibilidade e de positividade de testes como os principais responsáveis pela piora dos indicadores da cidade.

— Esses dois índices foram os que impulsionaram para baixo, fazendo com que os nossos indicadores ficassem ruins e regredíssemos para a onda amarela

Diante da situação, o comitê enviou ao prefeito Galileu Machado (MDB) sugestões de restrições para além do Minas Consciente, para evitar que a cidade caminhasse a “passos largos para a onda vermelha, o pior dos cenários”. 

— Nem todas as restrições foram acatadas pelo prefeito — contou Amarildo, sem dar detalhes.

Os protocolos estabelecidos pelo Estado determinam que é necessário um período de avaliação de 28 dias para uma cidade deixar a onda amarela e ser classificada na verde ‒ caso os indicadores sejam favoráveis. Divinópolis, assim como outros municípios, detalhou Janice, solicitou a redução do período.

— Solicitamos ao comitê estadual uma revisão, por considerarmos que é um tempo muito grande de restrição — justificou.

Desprezo à vida

O secretário também comentou sobre o trabalho de fiscalização realizado pela Vigilância Sanitária em parceria com a Polícia Militar (PM). Amarildo citou que um dos fatores para a piora dos indicadores na cidade foi o aumento do fluxo de pessoas sem a devida proteção individual, festas clandestinas e aglomerações em sítios durante o fim de semana.

Ele ainda disse ter conhecimento que a maioria dos estabelecimentos busca respeitar as regras sanitárias; outros, porém, funcionam irregularmente, sendo registrado inclusive contaminação em massa de funcionários.

— Quando se permite que um segmento, como o do comércio, seja aberto, não significa que todas as pessoas precisam estar nas ruas ao mesmo tempo. (...) Nós colocamos as regras, agora, se uma pessoa ou estabelecimento as afrouxou, eles estão errados — respondeu.

O secretário contou ter registros de pessoas com alto poder aquisitivo que pressionam por mais flexibilizações, porém, marcam presença em eventos com aglomerações. Por força da ética, declarou Amarildo, os nomes seriam mantidos em sigilo.

— Essas mesmas pessoas, que estão aqui agora cobrando, exigindo, falando que estamos fazendo restrições a mais, que a gente está proibindo que o comércio abra, são as mesmas pessoas que estão nessas festas — completou.

Os fiscais já registraram campeonatos de hip hop na praça, bares que fecham as portas mas continuam funcionando internamente, além, claro, das festas. O acúmulo de situações como essas “contribuiu para a regressão de onda”.

— Estão prejudicando todos os segmentos. É todo fim de semana, todo feriado, festas com 200, 300 pessoas. (...) E isso está demandando um grande esforço da nossa fiscalização — detalhou, citando até a cobrança de ingressos e a participação de cantores de “renome”, responsáveis por atrair ainda mais público.

É comum os agentes se deslocaram cada vez mais da zona urbana até sítios para atender denúncias de aglomerações.

— A hora que a gente chega é uma vergonha, porque sai todo mundo correndo — relatou.

Consequência

Uma das preocupação da Secretaria é com a próxima segunda-feira, 12, feriado nacional. Na data, apenas serviços essenciais poderão funcionar em Divinópolis.  A diretora da Vigilância em Saúde comentou que os dados comprovam uma piora nos indicadores após a celebração do 7 de Setembro.

— A gente percebe o desrespeito das regras sanitárias — pontuou.

Por isso, caso as pessoas não respeitem as orientações durante o feriado, no fim de outubro será possível observar, novamente, uma piora dos dados, pois os contaminados começarão a apresentar sintomas mais graves da doença. Sem as devidas precauções, haveria o risco de não avançar para onda verde e, no cenário mais pessimista, regredir para a onda vermelha.

— Flexibilização não quer dizer que a pandemia acabou. O que estamos vendo hoje é bares com as mesas próximas, pessoas bebendo, tirando a máscara, se abraçando (...). Isso favorece a contaminação e isso vai refletir na incidência da doença, na ocupação hospitalar — explicou Janice.

Natal vermelho?

Amarildo e Janice também responderam questionamentos da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Divinópolis. Na oportunidade, o secretário respondeu que algumas das perguntas deveriam ser encaminhadas ao setor de Desenvolvimento Econômico. Ele disse estar aberto ao diálogo e ciente da importância do funcionamento do comércio. Porém considera fundamental frear o avanço da doença na cidade para evitar a imposição de mais restrições. Um dos objetivos é garantir um cenário tranquilo no fim do ano, período crucial para os empresários.

— Imagina se chega dezembro e precisamos fechar tudo? O foco de nossas medidas é frear a transmissibilidade, a positividade dos testes, para que, tendo esses índices controlados, a gente possa avançar nas flexibilização — refletiu.

O secretário citou, como exemplo, a determinação da secretaria em preparar as escolas para o retorno seguro dos alunos, o que, segundo ele, também significa um avanço econômico, dada a paralisação de alguns funcionários dessas escolas e dos motoristas de vans.

— A gente não pode fechar os olhos, perder o controle da situação e regredir para a onda vermelha — concluiu Amarildo.

Orientação

A situação de dificuldade também foi um dos tópicos abordados na live. Janice contou estar em contato constante com os hospitais para o levantamento de dados. Nas conversas, relatos similares: esgotamento emocional e físico dos profissionais de saúde, dificuldade para contratar novos médicos e enfermeiros e funcionários afastados por contaminação.

— Muitos não querem trabalhar com covid — disse Janice sobre os obstáculos enfrentados para montar mais equipes técnicas.

Outro relato feito à diretora motivou um alerta à população: a necessidade de pessoas com doenças diagnosticadas antes da pandemia manterem o tratamento.

— O relato dos hospitais é de que os pacientes não covid estão chegando em estado mais graves [do que antes da pandemia]. Eles estão deixando de fazer os exames e tratamentos de rotina, agravando sua doença e indo em estado crítico para o CTI. (...) Não deixem de fazer o tratamento — recomendou.

Colaboração

Para voltar à onda verde, o secretário espera a colaboração dos moradores. Segundo ele, avançar para o último estágio de flexibilização é essencial para garantir o funcionamento dos setores de eventos, entretenimento, dos cantores que se apresentam em bares e restaurantes e demais atividades, pois eles estão “penalizados há muito tempo”.

— Vamos fazer um esforço para que a gente fique um período mais restrito para retornaremos posteriormente a onda verde — finalizou Amarildo.

Fatalidades

Duas novas mortes por covid-19 foram confirmadas pela Prefeitura ontem. A primeira vítima, uma mulher de 52 anos, tinha hipertensão arterial sistêmica, asma e obesidade. Ela foi internada no Hospital Santa Lúcia no dia 23 de junho e morreu na terça-feira, 6. A segunda, também uma mulher, de 37 anos, era portadora de asma e obesidade e foi hospitalizada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) no último dia 3. Na segunda-feira, 5, ela não resistiu à doença.

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