Se eu fosse o Papai Noel

Augusto Fidelis

Só o Papai Noel sabe da sua própria lida. As renas são teimosas, o volume de presentes é excessivo, as chaminés abarrotadas de picumãs e os pedidos simplesmente descabidos. Como o Bom Velhinho é obrigado a presentear algumas pessoas com mais dádivas do que a outras, dá a entender que nem todo mundo é filho de Papai Noel.

Devido a tantas injustiças repetidas, se eu fosse o Papai Noel mudaria totalmente a metodologia. Em vez de bens materiais, passaria a distribuir caráter, pois a falta                                                                                                                                                                                                                                                                                                              dele é que torna a humanidade cada vez pior. A falta de caráter torna as pessoas gananciosas, maldosas, irresponsáveis, mentirosas, trapaceiras, sem ética e abre caminho à corrupção.

Diariamente os meios de comunicação bombardeiam as massas com as notícias mais escabrosas sobre assassinatos, sequestros, roubalheira, desacato à lei e à ordem. Bem sei que existem muitas leis injustas, feitas segundo o interesse de grupos, justamente para livrar de julgamento aqueles que cometem crimes contra o povo.

A vida não tem mais valor. Foi-se o tempo em que as mães eram a representação de Deus aqui na terra. Hoje, algumas delas já não têm remorsos de jogar seus filhos em rios e lagoas ou abandoná-los nas calçadas e portas de igrejas. Há pais que abandonam os filhos como se fossem filhotes de animais. Há filhos que não honram seus pais e são capazes de eliminá-los deste mundo, por coisas fúteis.

Para Eça de Queiroz, é o coração que faz o caráter. Se não há sentimento, aquele que brota lá no fundo do âmago, não há caráter.  As pessoas passam toda uma vida em busca de fama, poder e dinheiro.  “Quase todos os homens são capazes de suportar adversidades, mas se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe o poder.” Esta afirmação de Abraham Lincoln retrata bem o momento político do país.

Papai Noel sabe que foi criado com o objetivo de angariar mais dinheiro para aqueles que usam a sua imagem, mas não se sente culpado. Cumpre o destino que lhe foi dado, o de levar os homens e as mulheres às compras, para movimentar a economia. Sua missão é distribuir presentes: mais para uns, nada para outros. Mas se eu fosse o Papai Noel abriria espaço para o Menino Deus que vai chegar, porque este, sim, tem mensagem de vida eterna: “Amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei”.

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