Santos e heróis, rogai por nós!

Há algumas semanas, o atual ocupante da presidência da República referiu-se ao Nordeste brasileiro e aos nordestinos com uma expressão de preconceito e deboche. O ex-capitão é, de fato e reconhecidamente, incapaz de reconhecer o significado do cargo que lhe deram e de comportar-se com a dignidade que o posto exige. Todos sabemos que o Nordeste é uma região que tem oferecido ao Brasil uma riquíssima contribuição de figuras destacadas em todas as áreas da atividade humana. Ou seja, o Nordeste é uma fonte inesgotável de inteligência, talento e ação criadora.

Domingo próximo, mais uma nordestina se colocará no panteão das grandes personalidades brasileiras. Em Roma, o papa Francisco deverá acrescentar mais alguns nomes ao cânon (lista, catálogo) de pessoas consideradas santas pela Igreja. Entre estes estará uma mulher brasileira e baiana, Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes. Ficou conhecida como Irmã Dulce, seu nome religioso. Passará a ser Santa Dulce dos Pobres.

A solenidade da canonização desperta as atenções de todos e vem recebendo espaço nos meios de comunicação. Os olhos de muitos milhões de brasileiros e, enfim, do público internacional, estarão voltados para a Praça de São Pedro, em Roma. Como compreender que, em um mundo dominado pelo capitalismo ateu, materialista e amoral, um tal evento possa merecer atenção? Em parte, reconheçamos, é pelo aspecto que se vê como espetaculoso e até anacrônico do acontecimento.

Porém há mais do que isso. A sabedoria da velha escolástica legou-nos, entre suas inúmeras sentenças, um refrão ético e metafísico. Na sintética formulação latina, expressou-se assim: “Bonum est diffusivum sui”. Podemos traduzir como: “O bem é, por natureza, difusivo de si mesmo”. Em linguagem mais poética, podemos dizer que o bem é, por si mesmo, encantador, atraente.

O vício paga sempre um relutante tributo à virtude. Os heróis e os santos nos maravilham, nos atraem, nos deslumbram. Mesmo que não tenhamos a coragem, a radicalidade deles. Mesmo que vivamos uma existenciazinha egoísta e medíocre, envolvidos nos nossos interesses mesquinhos, enredados nas disputas miúdas e nas tolas vaidades!

Já se disse que o Brasil é uma Belíndia. Somos um campeão mundial de concentração de riqueza, de desigualdade social. Quando perguntada sobre suas preferências políticas, Irmã Dulce respondia que era do “Partido dos Pobres”. Sua intercessão e seu exemplo nos ajudem a encontrar os caminhos da justiça social.

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