Romeu Zema promete não disputar licitações caso eleito

Ricardo Welbert 

O candidato ao governo de Minas pelo partido Novo, Romeu Zema, afirmou em entrevista ao Agora que as empresas do Grupo Zema, que pertencem à família dele, não disputarão licitações para fornecimento de produtos ou serviços ao Estado caso seja eleito. Segundo ele, essa promessa é parte de uma série de compromissos com os eleitores.

A disputa ao Palácio da Liberdade é a primeira experiência do empresário de Araxá na política. Sob a gestão dele, o conglomerado de empresas dos segmentos de eletroeletrônicos, autopeças, automóveis, motocicletas, consórcios, moda, finanças e combustíveis fatura cerca de R$ 3 bilhões por ano.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista que Zema concedeu ao Agora na terça-feira, 28, quando esteve em Divinópolis para participar de um debate para o qual três candidatos ao governo estadual confirmaram presença, mas apenas ele compareceu

Pelo fato de o Partido Novo estar começando, o senhor e outros candidatos da sua sigla têm dito que votar em outras é “mais do mesmo”. Mas, se candidatos pelo Novo forem eleitos, terão de participar de articulações que são necessárias a quem está no poder, como formações de grupos políticos que envolvam outras siglas e até mesmo pessoas que já tenham sido ou sejam alvos de investigações. Fazer parte desses conchavos não seria mais do mesmo? 
Temos, no Brasil, uma estrutura política que é totalmente disfuncional. A começar pela nossa Constituição, que criou um sistema que foi feito para não funcionar adequadamente. Infelizmente nós vamos ter de conviver com isso por algum tempo. Mas, já começaremos fazendo à nossa maneira. O deputado estadual que tiver direito a emenda parlamentar no meu mandato só vai poder usá-la quando me mostrar que aquele projeto dele realmente trará benefícios à população e também que exista previsão orçamentária para custeá-lo no decorrer do tempo, afim de que evitemos obras com caráter eleitoreiro e que muitas vezes têm utilidade totalmente questionável. Também darei exemplo. Assinei ontem em um cartório de Belo Horizonte uma escritura na qual me comprometo a não receber salário enquanto houver um servidor público sem receber o dele. Isso falta no Brasil – quem dê o exemplo certo. Conversarei com um por um. Sou uma pessoa totalmente aberta ao diálogo e faço questão de estar próximo dos deputados estaduais e até para entender muito bem o que cada um deles precisa na sua região. Mas, que eles me mostrem muito bem o fundamento, a necessidade. E não ficar essa coisa de “ele tem direito a isso” e faz o que bem entende. O deputado não está tão a par das necessidades da população. Não é médico para entender de saúde. Não é especialista em segurança. Então vamos fazer a coisa de um modo muito mais técnico e profissional.

Esses atrasos no pagamento do funcionalismo público que motivaram ao senhor e ao seu vice a abrirem mão dos salários enquanto houver pelo menos um servidor estadual sem receber o salário são um problema que mais cedo ou mais tarde será resolvido, mesmo que pela via judicial. Isso pode ocorrer no atual governo ou mesmo no próximo. Não teria sido melhor abrirem mão dos salários de governador e vice até o fim do eventual mandato?
O que fizemos ontem serve tanto para mim e o vice quanto para o secretariado. De minha parte eu até faria isso que você disse, mas vale lembrar que essa solução do funcionalismo público é algo que com toda certeza demandará um bom tempo. Nós não estamos falando de três ou seis meses. Talvez estejamos falando de alguns anos para colocarmos tudo em dia. Então isso demonstra um sacrifício. Já demonstra uma boa vontade enorme da nossa parte.

Nas declarações de patrimônio feitas ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) pelos candidatos ao governo de Minas, a quantia declarada pelo senhor se destacou como a maior. Não há nada de errado nisso, obviamente. Porém, candidatos da oposição e apoiadores de outros nomes questionaram isso. O que o senhor diz a eles. 
Diria que estão desinformados. Se Minas Gerais tivesse mais 300 pessoas que fizeram o que eu fiz, nós não teríamos sequer um desempregado em Minas. Isso seria bom ou ruim para o Estado? Pergunte a essas pessoas. Eu acumulei dinheiro. Recursos que estão todos empregados na empresa, gerando bem estar dos meus funcionários. Todos eles têm plano de saúde e todos recebem em dia. Será que isso está errado? Pago meus impostos em dia e não tenho mala de dinheiro guardada e nem apartamento cheio de dinheiro. Não sei se os concorrentes que declararam menos têm essas situações. Porque quando se fala dos mesmos políticos de sempre, o que vem à nossa mente são malas e apartamentos cheios de dinheiro. Quem sabe uma hora ainda vai aflorar [alguma nova informação] e algum deles ainda tem muito mais do que eu, só que ainda não está transparente e declarado?

Os valores dos impostos que sua empresa paga ao Estado já superaram esse valor declarado? 
Com toda certeza, sim. No Brasil, quando você é dono de uma empresa e coloca R$ 1 mil no bolso, com certeza você já pagou de R$ 3 mil a R$ 5 mil em impostos para ficar com R$ 1 mil. Então basta pegar o que eu tenho e multiplicar por três, quatro ou cinco. O resultado é aprixomadamente o que eu já tive de pagar para poder conseguir esse patrimônio que eu tenho.

Os dados da mais recente pesquisa de intenções de votos ao Governo de Minas mostram o senhor em terceiro lugar no cenário sem Marcio Lacerda, que teve a candidatura retirada pelo PSB. Na pesquisa feita com Lacerda no páreo, o senhor não apareceu entre os três primeiros colocados. O que o senhor achou da decisão do partido dele em retirá-lo da corrida e de que forma isso beneficia a sua campanha? 
O que aconteceu com o candidato Marcio Lacerda demonstra claramente como funciona a política no Brasil. É um puxando o tapete do outro. É uma deslealdade enorme. Uma falta de propostas. São os partidos camaleões, que a toda hora mudam de cor, tamanho, cheiro e formato, de acordo com as conveniências. São os velhos conluios e conchavos. Deu no que deu. Nós do Novo somos a única candidatura não “Frankenstein”. As outras candidaturas que você mencionou são todas umas colchas de retalhos, com interesses diversos, que se uniram em prol de tomar o poder e muito provavelmente de saquear o Estado. Nós temos propostas. A saída de um concorrente nos entristece, de certa maneira. O processo eleitoral fica menos rico. Quanto mais propostas, mais opções a população tem. Mas, não deixa de ser um concorrente a menos. 

Em entrevista recente ao jornal "O Tempo", o senhor disse que nunca forneceu para o Estado, para o governo". Depois dessa fala sua, a Agência Pública, especializada em checagem de fatos, verificou que apenas para o Governo de Minas a "Empreendimentos e Participações Domingos Zema LTDA.", empresa do grupo da sua família, assinou cerca de R$ 500 mil em contratos durante os governos de Aécio Neves (PSDB) e Antonio Anastasia (PSDB). A maior parte foi de venda de gasolina para frota das polícias Militar e Civil. De acordo com o "Portal da Transparência", todos os contratos da Empreendimentos e Participações Domingos Zema com o Governo de Minas foram firmados entre 2009 e 2014, quando o estado esteve sob administração de Aécio Neves e Antonio Anastasia. Ao todo, foram onze contratos que totalizaram R$ 449.218 mil homologados. O maior deles, em 2009, foi um pregão de R$ 109 mil de venda de gasolina automotiva para a Polícia Civil de Minas Gerais em Araxá, cidade natal do senhor.  Além do Governo de Minas, as empresas do senhor forneceram para a Prefeitura de Araxá. Em 2014, por exemplo, a Auto Zema vendeu uma ambulância por R$ 254 mil, além de veículos para a Secretaria de Segurança no valor de R$ 27,7 mil. Informada sobre o resultado da checagem pela Agência Pública, a assessoria de imprensa do senhor não se manifestou até a publicação dessas informações, no dia 16 último. O que o senhor diz sobre isso? 
Essas informações procedem. Eu sempre falo que a nossa empresa não fornece para o Estado. Mas eu sempre friso: eventualmente algum órgão do Estado nos procura, geralmente até para socorrê-lo em falta de determinados produtos. Como você mencionou, são fornecimentos de anos atrás e perto do volume total das nossas vendas, isso é totalmente irrelevante. É como alguém que durante um mês vendeu R$ 1 mil e determinado cliente comprou R$ 0,20 no mesmo período. A proporção eu diria que é mais ou menos semelhante a isso. Eu continuo afirmando: nossa empresa pode até fornecer alguma coisa ao Estado, mas isso representa cerca de 1% de 1% do que nós vendemos. Foi bom que a imprensa levantou isso. Eu mesmo não me recordava, devido ao fato de a empresa ser grande e eventualmente alguma venda ocorrer. Mas, com certeza alguma prefeitura compra algum eletrodoméstico de nós, eventualmente. Porém, como eu disse, não temos nenhuma estrutura para atender ao Estrado. Nunca foi finalidade da nossa empresa atender ao Estado. Mas é muito bom que esse tipo de coisa aflore, porque no meu governo uma das coisas que eu quero muito é oposição me mostrando aquilo que está errado. Isso ajuda. O que temos visto nos Brasil são candidatos da situação querendo calar a oposição. Vejo que a oposição é muito saudável nesse ponto e agradeço ao repórter que levantou isso. Era uma informação que eu não tinha. Passados tantos anos, eu mesmo não tomei conhecimento. 

Em um eventual governo seu, quando for aberto algum processo licitatório para o fornecimento de produtos ou serviços ao Estado, o Grupo Zema vai disputar a licitação ou o senhor acha melhor não misturar a política com o patrimônio privado? 
Nós não vamos participar. Não fornecemos. Para a coisa ficar mais transparente, o ideal é nós não vendamos nada [ao governo]. Não participarmos de nada, para termos uma opinião totalmente isenta. Ninguém poderá dizer que há segundos interesses ou outras intenções. Então já fica aqui também a minha definição. Não vamos vender nada ao Estado, porque isso não representa praticamente nada.

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