Revolta da Vacina II

Revolta da Vacina II

Está mais do que provado que vacinas salvam vidas. Os dados estão aí e fazem cair por terra qualquer teoria da conspiração, qualquer afirmação negacionista. Como abordado pelo Agora na edição desta terça-feira, 22, as mortes causadas pelo coronavírus em pessoas com 60 anos ou mais caíram 43% na cidade. Enfim, uma boa notícia em meio ao caos enfrentado há 15 meses. As vacinas estão salvando vidas. Mas isso não é novidade. A novidade é ver a população rejeitar os imunizantes porque viram nas ditas “correntes do zap” que algumas vacinas causam reações. Sim, isso é fato. Alguns imunizantes causam reações, mas isso não começou agora, com as vacinas contra a covid-19. Desde que o ser humano começou a ser vacinado, ele convive com algum tipo de reação causada pelos imunizantes. 

Hoje, ao ver o alto número de pessoas que ainda não voltaram para tomar a segunda dose da vacina contra o coronavírus ‒ por terem tido algum tipo de reação causada pela primeira dose ou pelo medo causado pela desinformação ‒ a sensação que se tem é que a humanidade vem “emburrecendo” aos poucos. É surreal imaginar que alguns têm mais medo de alguma reação do que dos sintomas da doença, que muitas vezes podem levar o paciente a necessitar de intubação. É surreal imaginar que algumas pessoas simplesmente não conseguem ver os benefícios que a vacinação traz para a humanidade ‒ e que se tem um dado que assusta é o da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, que mostra que duas a cada três pessoas que precisaram de intubação morreram. 

Ver que pessoas estão negando a segunda dose da vacina, e até mesmo a primeira, faz com que tenhamos a sensação de estarmos em 1904, quando houve a Revolta da Vacina. Para quem não se lembra, é válido recapitular que, mesmo quando o número de internações estava nas alturas, as camadas populares rejeitavam a vacina, que consistia no líquido de pústulas de vacas doentes. A população achava esquisita a ideia de ser inoculada com esse líquido e, para piorar a situação, corria o boato de que quem se vacinasse ficaria com feições bovinas. Apesar de os dados mostrarem um cenário positivo e cheio de esperança trazido pelas vacinas, em pleno 2021, é estarrecedor ver a história acontecer bem debaixo dos nossos olhos. 

Mas, diante dos baixos índices de escolaridade do Brasil, trazemos a fala de Edmund Burke e a persistente rejeição ao imunizante pelas suas possíveis reações: “Um povo que não conhece sua história está fadado a repeti-la”. A vacinação caminha a passos lentos. A princípio, pela falta de iniciativa política, de articulação e de compromisso dos governantes com o povo; hoje, pela rejeição de algumas pessoas que preferem se arriscar a precisar de um respirador e fazer com que uma triste história se repita, e custe vidas. O desejo é que, em algum momento, essa história tome um novo rumo e novos capítulos sejam escritos nela. Capítulos que, tomara, tenhamos orgulho de contar. Afinal, uma Revolta da Vacina parte II não é o que precisamos agora.

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