Reunião entre prefeitos define Usina de Asfalto

Matheus Augusto

Duas informações reveladas com exclusividade ao Agora devem colocar fim ao sonho de Divinópolis ou Carmo de Cajuru terem uma Usina de Asfalto. Conforme apontam informações de bastidores, os prefeitos membros da Associação Civil dos Municípios da Microrregião do Vale do Itapecerica (Amvi) se reúnem hoje para tratar da possibilidade de adquirem a infraestrutura, no entanto, a rejeição já é dada como certa. Além disso, segundo informou o líder do Governo na Câmara, Eduardo Print Jr., a Prefeitura inicia neste mês, o processo de licitação para, graças aos R$ 40 milhões obtidos via empréstimo, recapear as vias de Divinópolis.

Amvi

A maioria dos prefeitos que compõe a associação não está interessada em abrigar o projeto devido ao custo de manutenção. Informações também de bastidores dão conta de que o asfalto comprado é cerca de 40% mais barato do que o produzido pelos municípios. Outros fatores agravantes, segundos fontes ligadas à Amvi, incluem o fato de que, para liberar o início de funcionamento, seriam necessários cerca de dois anos, devido aos trâmites burocráticos, além da poluição que a usina produz.

 Para debater este assunto, os prefeitos se reúnem hoje, às 14h, na sede da Amvi.

“Não é viável”

Dos 17 vereadores da Câmara, apenas dois não demonstraram apoio ao ofício em defesa da implantação da Usina de Asfalto em Divinópolis: o presidente da Casa, Rodrigo Kaboja (PSD), e o líder do Governo, Eduardo Print Jr. (SD). Além do ofício divulgado por Matheus Costa (Cidadania), o parlamento convocou um protesto para amanhã, às 12h, em frente ao Centro Administrativo para solicitar que a Prefeitura aceite o recurso destinado à construção da Usina. O Agora conversou com Print sobre os motivos que o levaram a não assinar o documento. A reportagem tentou contato com Kaboja, porém, até o fechamento desta página, às 18h30, não obteve resposta. No entanto, em áudio que circula nas redes sociais, o vereador classifica a usina como “presente de grego” e cita o valor de quase R$ 2 milhões mensais que a Prefeitura teria que arcar como suas justificativas contra a instalação.

Alto custo e demora

Um dos argumentos do vereador Eduardo Print Jr. é o de que, mesmo com o recurso de R$ 1,5 milhão para construir a estrutura, a Prefeitura teria que lidar com as despesas de manutenção.

— A coisa mais barata nesta história toda é a construção da Usina de Asfalto. Mas tem os gastos altíssimos com o insumo para a produção do asfalto, a base para aplicar, preparação de solo, mão de obra etc. Isso gera um custo muito alto que o Município não consegue se comprometer a ficar com a usina — informou.

Eduardo Print também cita o tempo necessário para a usina entrar em funcionamento como um dos motivos que o levou a não assinar o ofício.

— E o mais importante: vamos supor que o prefeito aceite a usina hoje. Ela vai demorar pelo menos uns dois anos pra começar a funcionar, porque, além de não poder iniciar obra em ano eleitoral, a burocracia impõe uma licitação e todo o trabalho de liberação. Só aí demora mais de um ano pra chegar, além da licença ambiental e preparação do solo pra ela funcionar. Não demora menos de dois anos isso tudo — finaliza.

Com a necessidade de uma solução rápida, o vereador contou, com exclusividade, que a Prefeitura deve iniciar o processo licitatório para o recapeamento das vias em Divinópolis no próximo dia 23. Ao todo, a Prefeitura utilizará R$ 40 milhões conseguidos via empréstimo, com autorização dos vereadores.

— A gente precisa de soluções urgentes e imediatas para tapar os buracos. Não dá para esperar mais dois anos e contar que até lá o Município tenha dinheiro para tocar uma usina de asfalto quente por 24h — afirmou.

O vereador também alega que não mudará seu posicionamento apenas por “conta da repercussão”, pois seria “hipocrisia”.

Informações enganosas

Print entende que, com a quantidade de buracos encontrados nas ruas, é fácil convencer a população a apoiar a instalação de uma usina de asfalto na cidade. Porém, segundo ele, essa não é uma alternativa viável à Administração.

— Acho que a população ainda não entendeu o que é a Usina de Asfalto. Nós estamos vivendo um momento melancólico em Divinópolis, com as ruas bem estragadas, buracos pelos quatro cantos da cidade, 2.248 quarteirões sem infraestrutura, uma confusão danada. Então, quando se diz usina de asfalto, a população dá um clamor popular e fala: “resolveu o problema, salvou a vida de Divinópolis”. Mas esquecem dos maiores problemas que a usina vai trazer ao Município. (...) A população está entendendo que a partir de segunda-feira a usina vai estar aqui e distribuindo asfalto. Não é isso. O custo para movimentar isso é muito alto. (...) Na situação que nós vivemos no país hoje, com falta de recursos financeiros, falar que a Usina de Asfalto soluciona o problema é enganar o povo, e isso eu não concordo. — defende.

Para que o recurso não seja perdido, o vereador recomenda ao deputado responsável pela articulação a destinação do valor para ruas específicas da cidade.

— O que eu sugiro ao deputado é que pegue esse R$ 1,5 milhão e transforme em investimento de pavimentação poliédrica ou asfáltica, e ele pode indicar as ruas que ele quer que faça calçamento ou a infraestrutura do asfalto. Eu garanto para ele que o prefeito vai receber de bom grado e vai licitar as ruas que ele indicou — sugeriu.

Sobre a não assinatura, Eduardo Print Jr. declarou que as pressões políticas não devem mudar a opinião do prefeito – apesar de não descartar esta possibilidade.

Ele não depende da minha assinatura naquele papel para aceitar. Isso é fato. Nem da minha nem dos 15 vereadores — concluiu.

Ao Agora, a Prefeitura informou que não vai se manifestar sobre o protesto nem sobre a possibilidade de o prefeito reverter seu posicionamento.

Negou, mas agora quer?

O tema voltou a ganhar força no início desta semana após o prefeito de Carmo do Cajuru Edson Vilela (PSB), admitir aceitar a Usina de Asfalto, por meio da Associação Civil dos Municípios da Microrregião do Vale do Itapecerica (Amvi). Para o líder do Governo, a declaração é incoerente com o que se viu na prática.

— Eu desafio o Edson Vilela a instalar essa usina dentro da cidade de Cajuru para custear sozinho. Já teve a oportunidade de essa usina vir para o Centro-Oeste quando o deputado Domingos Sávio [PSDB] fez a mesma proposta do deputado Cleitinho, e ele, como prefeito da Amvi, recusou junto com os outros prefeitos — relembrou.

Entenda o caso

Matheus Costa apresentou na terça-feira, 3, em seu discurso na Câmara, o ofício solicitando o apoio dos vereadores para a implantação da Usina de Asfalto na cidade. O intuito é entregar o documento ao prefeito Galileu Machado (MDB) e reverter a negação da emendar parlamentar disponibilizada pelo senado Carlos Viana (PSD), articulada pelo deputado estadual Cleitinho Azevedo (Cidadania).

O vereador anunciou ontem que estará nesta sexta-feira, às 12h, no Centro Administrativo, para um protesto contra a rejeição da Prefeitura à usina.

— Será uma manifestação pacífica onde iremos entregar simbolicamente ao prefeito as assinaturas de 15 dos 17 vereadores apoiando a vinda da usina. Se o Galileu respeita a Casa do Povo, deveria aceitar o clamor dos parlamentares. A presença da população vai fortalecer ainda mais esse desejo quase unânime da população! — anunciou, em nota.

A Prefeitura já havia comunicado na segunda-feira lamentar que “o assunto Usina de Asfalto continue sendo usado com artimanha política de pessoas interessadas em antecipar o processo eleitoral”. Em entrevista no mês passado, o prefeito classificou que a obra poderia se tornar um “elefante branco”, pois tem uma produção superior à demanda da cidade.

— Essa usina que foi proposta tem a capacidade de produzir 40 toneladas de asfalto por hora. Nós, no serviço de tapa-buracos, gastamos 20 toneladas por dia, então essa usina é de grande de proporção. A Prefeitura não está dando conta de comprar material para o tapa-buraco, como vai conseguir recurso para que essa usina trabalhasse? — questionou o chefe do Executivo.

Dois lados

Diversas cidades do país contam com uma usina de asfalto. É possível encontrar municípios onde o projeto está ativo e melhorando as condições das vias, e outros em que, por falta de demanda, a usina está parando. Em Juiz de Fora, por exemplo, a usina não apenas foi construída, como ampliada no ano passado. Na época, a Prefeitura alegou que, com a nova unidade, a capacidade de produção para insumos para a operação tapa-buracos e a pavimentação de vias foi triplicada.

Em outra realidade, em Porto Alegre, uma reportagem da GaúchaZH aponta a cidade com duas usinas de asfalto, capazes de produzir 280 toneladas de concreto quente por hora. Porém, segundo o próprio órgão, a produção efetiva é de apenas 80 toneladas. Com isso, uma das usinas quase não é acionada e, mesmo assim, custa aos cofres públicos cerca de R$ 1,9 milhão por ano. 

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