Réu confesso

Leila Rodrigues

Caminho firme e apressada para mais um compromisso. Ninguém sabe, mas, além da bolsa, carrego pessoas e problemas comigo.

Carrego filhos, amigos, pais, marido, colegas de trabalho, manicure, porteiro e mais um monte de gente que nem imagina que andam comigo. Alguns carrego por amor, outros por preocupação e alguns outros carrego por entender que eles precisam de colo e eu posso proporcionar este colo a eles. Ninguém me pediu para ser carregado. Porém, eu e esta minha mania de resolver os problemas do mundo, andamos por aí carregados de gente.

Carrego problemas. Problemas meus e problemas que nem são meus, porém me preocupo em resolvê-los. Carrego sem me dar conta de que cada um tem a competência necessária para resolver o que lhe cai no colo.

 

Sei que estou indo na direção contrária de tudo que é correto. Eu não deveria carregar ninguém comigo além de mim. Nem tampouco carregar problemas que não são meus. O mundo não funciona assim, não é mesmo? Ninguém faz isso! Só eu!

Luto para deixá-los ir. As pessoas, os problemas e as bagagens da alma. Luto todos os dias contra a balança da minha mente. Enquanto tantos buscam desesperadamente a leveza do corpo, eu luto todos os dias para conseguir a leveza da mente. Para andar livre dos pesos que carrego comigo.

Às vezes consigo, mas é raro. E já que estou aqui, confessando publicamente esta minha fraqueza, contar-lhes-ei outra grande verdade, eu não vivo sem essas pessoas dentro de mim. Eu não sobrevivo com o coração vazio.

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