República Bananeira?

Raimundo Bechelaine

A pandemia provocada pelo coronavírus concentrou as nossas atenções, durante o ano que findou. Foi o assunto do ano. E este ano novo começa com as nossas preocupações e expectativas ainda voltadas para ela. As esperanças agora depositam-se nas vacinas, que já são aplicadas em dezenas de países, inclusive na vizinha Argentina. Nós, pobres brasileiros, somos duplamente vítimas: da pandemia e de um governo incapaz de liderar e coordenar planos e ações. Superamos os 200 mil mortos e nem sabemos quando e como teremos a vacina redentora.

Em meio a tudo isso, um novo acontecimento vem distrair nossas atenções. Pois eis que surge, ante o mundo inteiro, um fato tão inesperado quanto surpreendente. O quadro eleitoral e sucessório dos Estados Unidos oferece ao público internacional um espetáculo grotesco. O atual presidente e seus partidários já vinham causando hilaridade geral, pelas atitudes e palavrório excêntricos. Mas ultrapassam agora os limites da insanidade e da radicalização. O episódio burlesco do ataque ao Congresso Nacional foi o ápice de uma longa polarização política. Fica-se sem saber o que mais admirar. É difícil dizer o que foi pior. Terá sido o carnavalesco grupo de desordeiros que invadia e depredava o prédio, causando a suspensão de uma importante sessão? Os congressistas correndo atarantados, em busca de abrigo? Ou foram a incapacidade e o amadorismo dos agentes de segurança?

É muito difundida, na mentalidade média da população dos Estados Unidos, a crença ideológica de que seu país deve ser exemplo e guardião mundial de princípios e valores como a liberdade, a justiça, o mérito, a religiosidade e a dedicação ao trabalho. As origens protestantes da nação lhes justificam usar o nome de Deus e a Bíblia. Na passagem evangélica de Mateus 5, 14 a 16, encontram o fundamento "sagrado" de sua missão universal. São eles "a cidade edificada sobre o monte", a qual deve ser "luz do mundo" para todos os povos.

Fazendo de si mesmos esta imagem messiânica, colocam-se no papel de polícia do mundo. Veem-se no direito de intervir nos demais países, o que fazem com total desenvoltura. Espionam e sabotam instituições e governos, organizam golpes parlamentares ou militares, implantam ditaduras, financiam assassinatos, fomentam guerras, terrorismo e desordens em todo o planeta. No Brasil, o golpe de 64 e a consequente ditadura são apenas um das dezenas de ocorrências, na América Latina e em todos os continentes. Hipocritamente, classificam como "repúblicas de bananas" os países onde tais coisas acontecem, enquanto se orgulham de sua democracia perfeita e exemplar.

Na próxima semana, deve acontecer lá a posse do presidente recém-eleito. Há temores de mais desordens e violências. Medidas excepcionais de segurança estão sendo tomadas para o evento. Não deixa de ser divertido vê-los, tão superiores, provarem do seu próprio veneno.

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