Renovação e movimentos suprapartidários

Laiz Soares - Renovação e movimentos suprapartidários

Há muita fake news, preconceito, ódio e desinformação quando o assunto são movimentos de renovação política como o Acredito, Livres, MBL ou escolas e entidades de formação e capacitação como o RenovaBR e a Raps, que fazem parte deste ecossistema que trabalha pela mudança e melhoria da política e qualificação dos quadros na política brasileira. Eu chego a me sentir exausta quando tenho que falar desse tema, mas é importante, é o preço que se paga pela inovação, pela mudança de paradigma, por fazer parte da construção de algo novo. 

Tudo que foi pioneiro e que trouxe mudanças significativas sempre foi incompreendido, perseguido e combatido ao longo da história da humanidade, é da natureza do caráter transformador de qualquer inovação disruptiva enfrentar resistências desde a criação da energia elétrica, da telefonia, da internet, do antibiótico, das vacinas! Um mundo que resiste a vacinas não vai aceitar facilmente movimentos de renovação política. Quando se fala de política, inovar é ainda mais complicado, porque mexe com estruturas de poder profundas. O RenovaBR está no topo dessa lista hoje na política nacional de uma iniciativa amplamente amada e odiada. É um projeto que consegue incomodar todo mundo, dos mais de esquerda aos mais de extrema direita. Acredite na teoria da conspiração que você quiser, e pare aqui, nem termine de ler. Ou faça um esforço de tentar entender o que é isso e prossiga.

O RenovaBR é uma escola suprapartidária de formação de pessoas comuns que querem entrar na política. Nas eleições em 2018, 117 lideranças de 22 (VINTE E DOIS) PARTIDOS DIFERENTES fizeram o curso do Renova e foram candidatos. Dentre eles foram eleitos um senador, nove deputados federais e seis deputados estaduais. Em 2019 e 2020 tiveram novas turmas, com processos seletivos bem concorridos no país todo, e eu fui aluna, assim como a vereadora Lohanna França, o secretário Luiz Ângelo e outras figuras que atuam na política da cidade. Neste ano, após sete meses de processo seletivo que contou com 12 mil candidatos, a edição contou com 150 selecionados no país todo, dentre eles apenas 15 mineiros, e sou a única divinopolitana na turma. Os 150 aprovados têm origem nos 26 estados brasileiros e DF. A nova turma possui filiados de 21 partidos e 22% não são filiados a nenhum partido.

O Renova foi, sim, criado por muita gente rica. Graças a Deus eles resolveram fazer algo pelo país, antes tarde do que nunca. Sempre fui crítica de que a elite brasileira não fazia nada pelo Brasil, ou fazia muito pouco, e ainda acho isso. Mas a vida me presenteou com o privilégio de conhecer algumas várias exceções — e isso me traz esperança. Pois bem, vou focar no argumento que eu acho mais intrigante: o partido clandestino. Se fosse um partido clandestino, qual sentido seria permitir que pessoas de todos os partidos e ideologias participassem do Renova e fizessem o curso? Qual o sentido de um empresário milionário da Faria Lima colocar dinheiro do bolso dele numa escola que vai gastar esse dinheiro dando aula para pessoas filiadas a partidos que esse empresário não gosta, não concorda e jamais votaria no candidato daquele partido? 

Outra coisa que falam demais, no Brasil todo, pela esquerda: “Os políticos do Renova são mandados pelos empresários que financiam o movimento, eles tem que votar de acordo com o que os empresários pedem”. Bom, a deputada Joênia, da Rede, que fez Renova e foi a  primeira indígena eleita para o Congresso votou CONTRA, por exemplo, a reforma da Previdência, que é uma pauta que a esquerda acha que os empresários obrigaram os deputados do Renova votar a favor. Isso não existe, entendam: essas pessoas querem ver esse país deixar de ser tão atrasado, ver se deixam uma nação melhor para os filhos e netos, e para isso sabem que precisam apoiar políticos bem formados, competentes, estudados, independente de ideologia, porque nas empresas deles eles escolhem as melhores pessoas, as mais competentes e preparadas para comandar seus negócios, e o nosso país infelizmente tem colocado as piores pessoas (há exceções) para comandar a política e o país. Quando se tem políticos que valorizam os estudos, as evidências, os dados, mesmo em partidos e ideologias diferentes, eles conseguem dialogar, buscar soluções e resolver os problemas ‒ mesmo com discordâncias, você tem civilidade, democracia. O drama é que falta gente que queira ler, estudar, se preparar, ter uma opinião embasada (mesmo que seja diferente), dialogar, buscar consenso.

A questão é que ninguém aguenta mais a política do Brasil do jeito que está, as pessoas que têm dinheiro e querem morar no país porque amam aqui, escolheram ficar no Brasil em vez de ir para o exterior, querem ficar perto da família, começaram a entender que, se não tiver gente séria, estudada, preparada, competente na política (independente se de direita ou de esquerda), vai chegar uma hora em que esse país vai ficar impossível de se viver, de se trabalhar. Eles não criaram o Renova só porque são bonzinhos e idealistas sonhadores, criaram porque são mentes inteligentes que concluíram que ter gente desqualificada, incompetente, antiética na política é ruim para todo mundo, inclusive para eles, mesmo que andem de carro blindado e morem em condomínios de luxo. 

Mudar e renovar a política brasileira é uma questão de sobrevivência em um país tão desigual e violento, com políticos ainda tão ruins (há exceções, claro). Criaram o Renova porque querem gestores competentes melhorando a educação, a segurança, para conseguirem viver neste país em paz, e inclusive poderem trabalhar em paz. Se o país afunda, todo mundo afunda junto. O nome disso é consciência e dever cívico, comprometimento com o país, algo que muito brasileiro ainda não consegue entender ‒ se conseguisse, estaríamos bem melhores. Simples assim.




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