Raciocínio

Editorial

Nos últimos tempos, o Brasil foi tomado por uma paixão política que chega a ser surreal. O país se dividiu entre direita e esquerda e tanto de um lado quanto do outro o “sistema” adotado foi extremista. Toda vez que a paixão toma o lugar do raciocínio, o resultado é este que estamos vendo no Brasil: um abismo irreparável se formando. Amigos deixando de ser amigos por causa de política, famílias divididas... Enfim, uma loucura total. O respeito já não existe mais, a tolerância muito menos. A democracia vai se despedindo, tudo isso em nome de algo que sequer beneficia o povo. Tudo isso em prol da política. Enquanto nós, reles mortais, nos dividimos, nos separamos, em nome da direita ou da esquerda, os políticos estão unidos, grudadinhos que nem arroz, com um único objetivo: se manter no poder.

Depois das eleições do ano passado, mais precisamente após o atentado sofrido pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) em Juiz de Fora, quando ele estava em campanha, o país foi tomado por uma série de teorias da conspiração. Algumas fazem até sentido, mas não passam de teoria da conspiração. Com o brasileiro cada dia mais focado em criar essas histórias, em tentar provar que o seu ponto de vista é o certo e não o do outro, em brigar pelo seu lado, coisas importantes estão sendo deixadas de lado. A Polícia Federal (PF) prendeu nessa quarta-feira, 24, os suspeitos de terem hackeado o celular do ministro da justiça Sérgio Moro. Uma das últimas notícias de ontem, 25, era que um dos presos admitiu que invadiu o celular do ministro e entregou as conversas de Moro com o procurador Dalton Dellagnol ao jornalista Glenn Greenwald, um dos fundadores do The Intercept, de forma anônima e sem qualquer tipo de cobrança.

No meio do alvoroço da notícia da prisão e das primeiras declarações, o que mais chama a atenção é a conduta do ministro. Em um primeiro momento, Sérgio Moro negou que aquelas mensagens tinham saído de seu celular, depois disse que poderia, mas não confirmou. Agora, com a prisão dos “hackers”, o que fica provado é que, se o celular foi hackeado, a troca de mensagens existiu. Tal situação coloca o Judiciário, que já está desacreditado no país, mais uma vez em xeque. Mas, em vez de se questionarem se a conduta de Moro, que na época da troca de mensagens era juiz da Lava Jato, é ilibada, não, as pessoas estão defendendo a sua atuação, uma vez que o objetivo maior era prender o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Isso beira a loucura. Como que um povo que é contra a corrupção, que vai às ruas pedir o fim da corrupção, defende um comportamento totalmente questionável? É basicamente adorar Deus e diabo ao mesmo tempo.

Enquanto milhões de brasileiros estão focados apenas em defender o seu lado do quintal, o seu ponto de vista, o carro chamado Brasil segue desgovernado, ou melhor, segue governado por uma paixão absurda, que impede o povo de raciocinar. Onde esse carro vai parar? Não sabemos. Só sabemos que toda paixão que cega, que impede de pensar, tanto de um lado quanto de outro, não é saudável. A pergunta é: o que restará desta paixão que queima como chama?

 

Comentários