Quem paga o pato

Editorial - Quem paga o pato

Desde terça-feira, 7 de setembro, dia em que é comemorada a Independência do Brasil, o país vive momentos de tensão. A grande expectativa era se, ontem, ainda se viveria em uma nação democrática ou se haveria golpe de estado. Apesar de ainda estar em um estado democrático de direito, a situação do Brasil é delicada. Para quem não sabe muito bem o que é o estado democrático de direito, ele vem da premissa de que todo o poder emana do povo. Como está determinado na Constituição Federal de 1988, a nação brasileira enquadra-se na categoria de estado democrático de direito. Suas principais características são soberania popular; da democracia representativa e participativa; um Estado Constitucional, ou seja, que possui uma constituição que emanou da vontade do povo; e um sistema de garantia dos direitos humanos. Engana-se quem pensa que sempre foi assim. E, talvez, justamente por achar que o direito de ir e vir sempre foi algo garantido no país, milhares de pessoas apoiam um possível golpe de estado. 

O povo brasileiro foi às ruas protestar. Houve manifestação contra e a favor do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), e isso nada mais é do que o povo exercendo o seu direito de ir e vir, usando a democracia na sua mais pura essência. Quem está satisfeito com o governo protestou a favor, quem não está protestou contra. E isso nada mais é do que o estado democrático de direito em que vivemos, desde 1988. Mas, se ficássemos apenas nos protestos, estava tudo bem. O grande problema é que a situação foi um pouco além. Um grupo de apoiadores do presidente invadiu a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, e, não satisfeitos em estarem acampados lá, tentaram invadir na manhã de ontem o Ministério da Saúde. A situação, lógico, causou pânico em quem estava no prédio e também em quem apenas acompanhava a situação pelos noticiários. 

Mas o que mais chama atenção nisso tudo é o que dá força para este movimento, o que dá “gás” para este cenário. Em sua mais simples – e absurda – essência, é fato que o que está por trás de tudo isso são os ditos “representantes do povo”. Com suas falas apaixonadas e discursos inflamados, os políticos brasileiros, que foram eleitos democraticamente para representar o povo nos poderes Legislativo e Executivo, sustentam e inflamam a situação. Mais do que estarrecedor, este cenário revolta, afinal, qualquer pessoa com o mínimo de bom senso sabe que não é disso que o país precisa e que esta situação traz consequências imensuráveis para o Brasil. Apenas a possibilidade de um golpe reflete diretamente na economia do país e “quem paga o pato” é o povo, que precisa lidar diariamente com os preços dos produtos lá nas alturas. 

Triste e devastador ver que, infelizmente, essa situação é financiada por aqueles que deveriam estar neste momento trabalhando para que o país se torne estável e seguro o suficiente para que a economia possa ser retomada. Hoje assistimos a tudo isso, amanhã pagamos a conta!

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