Quem mata e quem morre tem mesmo perfil

 

Anna Lúcia Silva

Os números mais recentes sobre homicídios na Região Centro-Oeste refletem as enormes desigualdades sociais e, mesmo com queda, os números apresentados nesta quinta-feira, 25, marcam de forma linear o perfil de quem mata e quem morre na região, não diferentemente do Brasil, apontando etnia, faixa etária e as causas mais comuns dos assassinatos e seus responsáveis.

Em Divinópolis a recente apuração da Polícia Civil (PC) e Polícia Militar (PM) aponta uma redução de 20% no número de homicídios. Uma queda significativa, no entanto, o que cabe é uma reflexão das causas e, sobretudo, do perfil dos envolvidos nestes crimes, bem como o caminho trilhado pelos envolvidos, que resulta nas mortes violentas em Divinópolis e demais cidades do Centro-Oeste.

Perfil 

De acordo com dados fornecidos pelas polícias Civil e Militar, em relação a 2018, houve uma redução de 20% no número de homicídios em Divinópolis, sendo registrados 30 neste ano e 36 no período anterior. De acordo com o perfil destes casos apresentados, 29 são homens e uma se trata de mulher. Na maioria dos casos a polícia avalia que o perfil de quem mata e morre são semelhantes.

Neste sentido, a PC que cuida da repercussão e responsabilização dos crimes, aponta que a maioria são jovens entre 18 e 29 anos, sendo 24 anos a média das vítimas que morrem. Para a PM, esta é a mesma faixa etária dos que matam. Além disso, os moram em periferias, são, em sua maioria, pardos e negros. As mortes estão amplamente associadas ao tráfico de drogas e envolvimento com facções criminosas. As demais causas estão relacionadas às vinganças e motivos fúteis.

Para o delegado regional, Leonardo Pio, outra questão importante e que fomenta uma reflexão acerca do perfil traçado é que são jovens de baixa renda, ou seja, pessoas sem oportunidades que visam no tráfico uma ascensão econômica rápida.

— Quando se envolve com o tráfico, o homicídio é o resultado do caminho que foi trilhado. O que se deve discutir são os fatores causadores da violência apurada pela polícia, que no atual momento soluciona 73% dos crimes, ou seja, as responsabilizações estão ocorrendo, mas o principal que é tratar o problema em sua base tem falhado. A reflexão deve ocorrer no sentido do que se pode fazer, socialmente falando, para minimizar estes casos — destacou o delegado.

Questões sociais

Segundo o sociólogo Clayton Pereira, alguns aspectos são fundamentais para avaliar o perfil da violência e o primeiro deles é a desigualdade social, que passa por diversos aspectos como a falta de acesso à saúde, educação, políticas públicas efetivas, infraestrutura, que está atrelada à moradia de qualidade, tratamento de esgoto, fornecimento de água tratada, mobilidade e tantos outros aspectos.

— Em função à falta desses acessos há um enorme desnivelamento social e, por consequência, a busca pela mais-valia e estabilidade emocional, que não ocorrem e geram, consequentemente, insatisfação e por sua vez, facilita a introjeção à violência — explicou.

Para Clayton, a revolta social está ainda baseada no descontentamento em função do poder público e instituições que cada vez mais reconhecem  e assim perdem legitimidade a exemplo recente do judiciário brasileiro.

Ele ainda afirma que um possível caminho se trata do que já é amplamente divulgado, que são investimentos em educação, políticas públicas eficazes e uma rediscussão do judiciário brasileiro, visando mais prevenção e combate do que punição. 

 

 

 

 

 

 

 

 

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