Quem diria?

 

Leila Rodrigues 

Quem diria? 

 

Quem diria que um dia, seríamos salvos pelas quatro paredes de nossas casas? Essas mesmas quatro paredes que nos aprisionam, que às vezes ficam pequenas demais para tanta gente ou grandes demais para uma pessoa só. 

Quem diria que um dia seríamos salvos pela arte? Que as formigas seriam salvas pelas cigarras? Pelas músicas que marcaram nossa história, pelos filmes antigos, pelos livros que esperaram anos na estante, pelas comédias repetidas que conseguem nos arrancar algum sorriso, ainda que a dor nos sufoque a gargalhada. 

Quem diria que um dia nos contentaríamos com as imagens ou com a voz do outro lado da linha? E a distância faríamos os encontros mais calorosos e mais cheios de verdade de toda nossa convivência? 

Quem diria que um dia o desenvolvimento estivesse na palma da mão? E que através dele poderíamos aprender, nos conectar, compartilhar, dividir e até separar?

Quem diria que a despedida seria assim tão rápida? Que aquele até logo fosse durar para sempre? Quem diria que a saudade um dia pudesse ser coletiva e que a dor e a compaixão abrangesse tanta gente ao mesmo tempo? 

Quem diria que a lição seria para a humanidade inteira? Que, apesar de tantas desigualdades, alguma coisa tivesse a incrível capacidade de nos colocar no mesmo patamar? 

As lições estão aí para quem quiser crescer com elas. Nunca tivemos tão abertamente a oportunidade de sermos criativos, solidários, humanitários, compreensivos, cuidadosos e responsáveis como neste momento. 

Ah, esse vírus não chegou em vão no nosso amado planeta, nem em nossas vidas! Nem tampouco essas pessoas que se foram, foram para lugar nenhum. Estamos todos a caminho. A caminho de um processo evolutivo que, embora pareça coletivo, cada um vai ter que cruzar o seu.

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