Que venham as cinzas

Amnysinho Rachid 

Interessante como somos marcados por datas e simbolismos. Em um país de maioria católica, até nossos feriados e grandes datas são ligados à igreja.

     Hoje, não tão formado por católicos, mas todas as religiões, crenças e etnias. E o mais interessante é o respeito que a cada dia cresce mais uns pelos outros, mesmo existindo ainda loucos acreditando ter seu Deus melhor que o outro. Eu mesmo sou uma mistura, pois tive um pai espírita e uma mãe fervorosamente católica. E como se respeitavam, indo de vez enquando um no espaço do outro. Lembro-me do meu pai na missa, cantarolando as musiquinhas da igreja no maior respeito, e minha mãe indo ao centro espírita com ele. Admiro os estudiosos das igrejas evangélicas, como são concentrados e dedicados à sua fé. Outro dia tive a oportunidade de visitar uma de suas igrejas e fiquei encantado com o tratamento a nós dedicado, fomos aguardados na porta e recebidos como para uma festa, adorei.

      Mas, antigamente, quando acabavam as festanças de Momo, caíamos na Quarta-Feira de Cinzas. Muitos não sabem que a data é um símbolo do dever da conversão e da mudança de vida, para recordar a passageira fragilidade da vida humana, sujeita à morte. Coincide com o dia seguinte à terça-feira gorda de carnaval e é o primeiro dia dos 40 dias (Quaresma) entre essa terça-feira e a Sexta-Feira Santa, anterior ao domingo de Páscoa.

      Como fui criado colado ao Santuário, sempre participei de tudo que tinha lá: batizado, primeira comunhão, crisma e, nestes períodos, fui escoteiro (lobinho), fiz parte do grupo de jovens e do Leo Pardo do Lions. Como rodávamos aquilo tudo ali, brincávamos de pique na horta e no cemitério dos padres. Antigamente, as coisas eram mais livres e sempre muito abertas, existia um grande jardim perto da capela de santa cruz, onde fiz meu jardim de infância, que era lindo.

       Mas, na Quarta-Feira de Cinzas, me lembro da igreja cheia, os devotos em um grande silêncio – questão de respeito –, em fila indiana com a cabeça baixa esperando para receber as cinzas na cabeça. Lembro-me que uns recebiam uma chamuscada grande e saíam com a cabeça e o rosto todo rebocado, quase morríamos de rir.

     Sempre tive a convicção que, a partir dali, a coisa ficava séria e o ano começava... Parando de novo só um pouquinho na semana santa, e que delícia era explodir as aleluias... Loucura.

     E continuamos aqui, Tok Empreendimentos, rua Cristal, 120, Centro, lutando e pedindo para que agora o nosso país cresça, que voltemos a ter dignidade para criar nossos filhos.

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