Quase 500 novos casos suspeitos de dengue surgem em uma semana

Matheus Augusto

Maria Tereza Oliveira

A cada semana o otimismo diminui e os números aumentam. O último boletim epidemiológico, divulgado ontem pela Secretaria Municipal de Saúde (Semusa), aponta Divinópolis com 2.522 notificações de dengue, sendo 735 casos já confirmados. Ou seja, em relação à semana passada, surgiram 499 novas suspeitas e outros 134 pacientes tiveram a doença confirmada. É uma média de quase 17 ocorrências de dengue por dia na cidade.

Em 2018, Divinópolis registrou 159 casos suspeitos e 77 confirmações, número quase dez vezes menor do que o atual.

Dados

A cidade é classificada pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) com o maior índice possível, de muito alta. A incidência chegou a pouco mais de 910 notificações para cada grupo de 100 mil habitantes. O número deve ser ainda maior, pois o boletim do estado ainda não contabilizou cerca de 400 ocorrências.

Na Macrorregião Oeste, Divinópolis aparece, entre os 54 cidades, como o 25º município com maior incidência. Outras cidades também se encontram em situação crítica. Arcos, com quase 40 mil habitantes, já registrou 3.185 notificações. Em Nova Serrana, o número de suspeitas chegou a 2.528.

Em Carmo do Cajuru, apesar de haver “apenas” 195 relatos, a cidade fica classificada com uma incidência de 876,13. Itapecerica vive situação mais confortável, porém ainda continua em alerta. A cidade, com quase 22 mil habitantes, já registrou 74 suspeitas.

Em abril, foram 840 notificações. Com pouco mais de uma semana para se encerrar, o mês de março já registrou 846 ocorrências. Ou seja, a expectativa de queda na temperatura e a redução do ritmo de crescimento de casos suspeitos não se concretizaram.

Segundo o boletim epidemiológico divulgado na segunda-feira pela SES, Divinópolis é o oitavo município, de um total de 11, com mais de 300 casos a cada 100 mil habitantes nas últimas quatro semanas. Nesse período, a cidade registrou 1.287 novas suspeitas, resultando em uma incidência de 661,48.

Medidas

Para combater o avanço da dengue no município, a Semusa reativou os mutirões de limpeza, além de adiantar ações como o “Dia D”. Também foi montado um ambulatório na Policlínica, para a hidratação venosa e oral dos pacientes. Aqueles em estado grave continuam sendo atendidos na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Padre Roberto.

O município recebeu, do Governo do Estado, o montante de R$ 200 mil, de um repasse complementar às cidades com alto índice de dengue. 

LIRAa

A Prefeitura informou que, entre os dias 13 e 17 de maio, agentes de saúde visitaram 4.677 imóveis na cidade para fazer o Levantamento de Índice Rápido do Aedes aegypti (LIRAa). Apesar do número de casos continuar aumentando, a pesquisa apontou uma queda no índice de infestação. Enquanto em janeiro, no 1º LIRAa do ano, esse indicador era 5,9%, agora é de 5,1%. Mesmo com a redução, Divinópolis, de acordo com o parâmetro do Ministério da Saúde (MS), ƒque é: inferiores a 1%: estão em condições satisfatórias. ƒ De 1% a 3,9%,  situação de alerta  eƒ superior a 4%: há risco de surto de dengu,  continua com a classificação alta.  

As regiões, por ordem de gravidade, são: Central (11,3%), Sudeste (6,9%), Norte (6,7%), Nordeste (6,2%), Oeste (2,5%) e Sudoeste (1,2%). Segundo o levantamento, a região Central é o caso mais grave, visto que todos os focos da dengue foram encontrados dentro das residências. Nas regiões Oeste e Nordeste a situação é similar, onde 96% estavam dentro dos imóveis.

Minas Gerais

O cenário em Minas Gerais também é delicado. Já são 289.500 notificações da dengue, entre confirmações e suspeitas. Em todo o estado, neste ano, 49 mortes já foram confirmadas, sendo dez em Betim, nove em Uberlândia, seis em Belo Horizonte, quatro em João Pinheiro; Contagem, Unaí, e Vazante registram duas cada. As cidades de Arcos, Curvelo Frutal, Ibirité, João Monlevade, Lagoa da Prata, Martinho Campos, Paracatu, Passos, Patos de Minas, Rio Paranaíba, São Gonçalo do Pará, São Gotardo e Uberaba tiveram uma confirmação cada. Outras 97 mortes ainda estão sendo investigadas.  

A situação só vem piorando desde o início do ano. Em janeiro foram registradas 17.094 notificações. No mês seguinte, os números dobraram, sendo 34.821 suspeitas. Neste mês, as ocorrências de dengue já superaram ambos os meses, contabilizando 37.385 notificações.

Os piores meses foram março e abril, que tiveram 78.136 e 122.064 casos suspeitos, respectivamente. A SES-MG considera que o cenário atual segue a tendência de anos endêmicos, porém com menor intensidade do que as duas últimas epidemias no estado, em 2013 e 2016.

E a situação pode ainda piorar. Em coletiva na última quarta-feira, 15, representantes da Superintendência Regional de Saúde em Divinópolis afirmaram que, de acordo com sinalizações feitas pelo Ministério da Saúde (MS), o panorama para o próximo ano é de um cenário ainda mais crítico do que o atual.

Sem fumacê

Mesmo com a alarmante situação da dengue em Divinópolis, uma das principais armas contra o Aedes aegypti está segue em falta na cidade porque veio pouca quantidade do produto no início desta semana. Conforme informou a Prefeitura ao Agora, o Malathion EW 44%, não foi repassado pelo Estado ao Município. O material é usado para a erradicação do mosquito, através da pulverização de determinadas áreas e até mesmo dentro das residências.

Conforme documento divulgado pelo Ministério da Saúde, o produto está em falta no Brasil, e a tentativa de importar o material de outros países da América do Sul não foi bem sucedida.

O desfalque teria sido causado por problemas na gestão de insumos estratégicos, relatados a partir de janeiro de 2017. Como consequência, surgiram complicações identificadas no produto, como formação de dupla fase, dificuldade de emulsificação, vazamentos de embalagens e do estoque disponível.

Ao abrir as embalagens, o material estava mais grosso e viscoso da mistura na parte inferior e líquido na parte superior da embalagem, o que inviabilizou a diluição do produto para uso.

Todos os estados solicitam o produto e Minas é responsável pela maior demanda. Em 2018, foram solicitados 72 mil litros de Malathion. Neste ano, o pedido foi ainda maior, e chegou a 75 mil litros.

Alternativas

Enquanto o material não é repassado, a Prefeitura afirmou que tem adotado outras medidas, como os mutirões de limpeza e trabalho de conscientização da população.

 

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