Quarentena: até quando?

Augusto Fidelis

Engraçado, eu sempre pensei que quarentena fosse um período de 40 dias, igual àquele em que as mulheres eram submetidas no passado, quando passavam o tempo comendo sopa de galinha gorda, após o parto. Estou com muita dúvida, pois me acho recluso há mais de 80 dias e não há nenhum desfecho. Ou será que essa quarentena é de 40 anos? Se for, ao seu término, somente os chineses terão sobrevivido. Afinal, eles inventam as pandemias e o modo de tratar, mais eficiente para eles, claro.

Por causa deste tal de isolamento social, não aconteceram neste ano as tradicionais barraquinhas da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima. Num determinado dia, eu surtei. Fui à igreja e roguei ao padre Reginaldo apenas um prato de sopa, para aplacar o meu desejo. Eu não fazia questão de feijão tropeiro e nem de outros caldos, mas um prado de sopa por caridade. Padre Reginaldo deu uma gargalhada e prometeu a iguaria para o mês de outubro, em comemoração à última aparição de Nossa Senhora, na Cova a Iria.

No princípio até fiquei satisfeito, porém, ao retornar para casa, tive um sobressalto: e se a China estiver preparando a versão covid-20? É sempre no mês de outubro que desovam por lá os “coronas”, para depois atormentar a humanidade por um ano ou mais. Inclusive, há quem diga que a covid-19 vai ser igual à dengue. Arranja um mosquito hospedeiro e fica por aí, azucrinando os incautos. Meu medo é de eu ter de usar máscara para o resto da vida, em prejuízo da minha beleza.

Por outro lado, estou cansado de ficar na janela, com a mão no queixo, olhando a rua sempre deserta. Às vezes tenho a impressão que todos os meus vizinhos foram embora e me deixaram para trás. O cenário é igual ao daquelas cidades abandonadas dos filmes do Velho Oeste. Quero bater perna na rua, procurar o que não guardei, na esperança de encontrar algo surpreendente e poder exclamar: poxa, ganhei o dia!

Mas no mundo há ainda muita gente boa. Vira e mexe alguém liga. Ontem, por exemplo, foi a Maninha. Ela disse que está muito preocupada, pois conversa sozinha, ora com as plantas, ora com o seu cachorro. Repassei a ela a recomendação dos psiquiatras alemães. Aí eu disse de maneira bem espevitada: Maninha, nesta época de quarentena, isso é normal. Agora, se a qualquer dia você der bom dia ao seu cachorro e ele responder com todas as letras, tome enérgicas e inadiáveis providências, porque a coisa está feia para o seu lado. Nesse caso você não passa nem na porta do Sersam, é Barbacena direto. Mas se mantenha firme, minha querida, porque, quando outubro chegar, vamos ter sopa de galinha gorda, para a gente lambuzar os dedos e os beiços. Caramba, vai ser bom demais!

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