Quando janeiro vier

Augusto Fidelis 

Se 2020 é essa rotina de medo, de pavor de um inimigo que se encontra às espreitas, sem que ninguém saiba quando e de onde ele pode atacar, 2021 há de chegar com as esperanças renovadas. Sem dúvida, 2020 dá à humanidade uma lição jamais esperada, porque mostrou aos seres humanos o quanto são frágeis e insignificantes perante o tempo, cada vez mais escasso. Dia após dia, as pessoas estão aí vivas, mas não estão vivendo a plenitude da existência. 

Dom Cristiano, o primeiro bispo de Divinópolis, era enfático quando falava sobre o tempo. Segundo ele, quanto mais velho se fica, mais depressa o tempo passa. É aquela sensação de que ainda há muita coisa para ser feita, mas já não há tempo. As horas, os dias, os meses, tudo passa com ligeireza assustadora. Quando menos se espera, o tempo teima em arquear o corpo, limita os movimentos, reduz a visão, provoca dores aqui e acolá. Esse cenário impede a pessoa de fazer com destreza as mesmas tarefas de antes, os passos são mais devagar e já não se consegue acompanhar o tempo, que caminha com desenvoltura.

Um dia desses, eu e um amigo passamos perto de um ponto de ônibus e, ao ver tanta gente de máscara, dissera-me ele com perplexidade: “Nunca imaginei que eu veria, durante a minha vida, uma cena igual a essa”. Ao que eu respondi: o melhor é que estamos vendo. Se não tivéssemos a oportunidade de ver, seria muito pior. E o melhor ainda é: se pudermos ver o desfecho de todo esse desatino é a graça das graças. Ele concordou que eu estava certo.

Ninguém deve ignorar as recomendações das autoridades de saúde quanto às precauções que devem ser observadas neste momento de pandemia. Porém o medo exagerado de determinadas pessoas serve somente para piorar o estado emocional desses indivíduos, com surgimento de outras doenças. Embora haja pessoas arrogantes, capazes de contestar, a nossa vida está é nas mãos de Deus. Quando chega a hora de partir, não há médico que possa salvar.

O nosso viver, no entanto, se sustenta de esperança. Estamos sempre esperando algo, e que este seja o melhor. Os doentes esperam saúde, os presos a liberdade, os desempregados uma ocupação, os desamparados alguém que lhes dê a mão. A morte é a única nunca esperada, apesar de todo aquele que vive saber que, mais cedo ou mais tarde, esse encontro acontecerá. Não adianta morrer de medo, se o medo em nada resolve, pois, ainda que tardia, essa fatalidade virá. Porém, com a correria de dezembro, o mês de janeiro não tarda a chegar e nossas esperanças serão renovadas, porque tudo de ruim ficará para trás, voltaremos a ser felizes. Que assim seja! 

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