Projeto garante presença de doulas em partos nos hospitais de Divinópolis

 

Ana Laura Corrêa 

Maternidades de Divinópolis, das redes pública e privada, poderão ser obrigadas a permitir a presença de doulas durante todo o trabalho de parto, quando solicitada pela parturiente. O projeto de lei municipal foi aprovado na semana passada, em reunião da Câmara, e vale para parto natural, cesariana e pós-parto imediato.

— A doula faz uma ponte entre a mulher/casal e informações, sobre os sintomas da gestação, esclarecendo os riscos e benefícios de cada via de nascimento, bem como as diferenças assistenciais, para que o casal faça escolhas conscientes. Durante o trabalho de parto, a doula orienta posturas que ajudam a aliviar o desconforto das contrações, a posicionar melhor o bebê, acalmar a mãe e a família, obter informações claras junto à equipe de assistência. A doula não toma decisões pela mulher, apenas orienta — disse Rebeca Charchar, que atua como doula há 13 anos.

A nova lei foi proposta pela vereadora Janete Aparecida (PSD), em parceria com o instituto Ishtar, um grupo de apoio para mulheres e gestantes que promove encontros gratuitos às segundas e quartas-feiras no Senac, em Divinópolis. Além de temas ligados à gestação, o grupo incentiva o protagonismo feminino, o empoderamento para a maternidade e a amamentação.

 Doula 

A doula Shayane de Melo Machado fez o curso para exercer a função em 2017 e, desde então, já participou de partos em hospitais de Divinópolis e também em Belo Horizonte. Para ela, a assistência ao parto precisa melhorar não tanto em relação à estrutura física, mas, principalmente, sobre a estrutura humana.

— O direito por si só não altera nenhum tipo de realidade social, o problema é complexo. É necessário um novo olhar dos profissionais envolvidos, com respeito à fisiologia e autonomia da mulher, e é urgente contratar mais enfermeiros obstetras. É preciso também que os médicos não tenham resistência em trabalhar com a equipe multidisciplinar, no caso, a enfermagem obstétrica e a doula. Não temos o objetivo de afrontar os médicos, mas de semear as boas práticas e o parto respeitoso — disse a doula.

 Hospital 

Procurado pelo Agora, o Hospital São João de Deus (HSJD), único que atende pelo SUS na cidade, informou que, antes mesmo da nova lei, sempre respeitou o trabalho desenvolvido pelas doulas e permitiu a presença das assistentes. O hospital não dispõe de doulas contratadas para o atendimento às gestantes. As assistentes devem, então, ser contratadas pelas parturientes.

— Ressaltamos que faz parte de nossos valores o atendimento humanizado. O HSJD conta com enfermeiros obstetras especializados e preparados para o acompanhamento da gestante durante o trabalho de parto exercendo funções semelhantes às doulas, auxiliando na posição em que a parturiente está, facilitando o trabalho de parto. Ensinamos ainda algumas técnicas e massagens, acompanhamos em uma caminhada para otimizar o desenvolvimento do parto e acompanhamos também na hora do banho. A diferença é que a presença de uma doula possibilita à gestante um tratamento exclusivo, individualizado — afirmou o hospital.

 Mãe 

A assistente financeira Débora Silva teve seu terceiro filho no último sábado, 12, em um hospital de Divinópolis, e contou com o auxílio de uma doula. Ela conheceu o trabalho das doulas somente quando estava no sétimo mês de gestação.

— Até então, iria fazer cesárea, por medo de violência obstétrica, que sofri quando tive minha primeira filha. Quando uma amiga me apresentou o grupo de apoio ao parto natural, vi que era possível trazer meu filho ao mundo com respeito e amor. Foi natural, intenso, lindo e respeitoso, como todo parto deve ser. Se o terceiro parto tivesse sido o primeiro, eu jamais teria feito uma cesárea — afirmou.

 

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