Profissionais de academia protestam contra fechamento

Programa estadual autoriza abertura do setor apenas no último estágio de reabertura, no qual nenhuma cidade está

Matheus Augusto

A praça da Catedral em Divinópolis voltou a sediar mais um protesto em prol da retomada das atividades econômicas em Divinópolis. Há duas semanas, empresários do setor de bares e restaurantes deixaram o local em direção à Câmara em busca da autorização para consumo no local de bebidas alcóolicas. Ontem, donos de academias e profissionais da área também estiveram na praça para cobrar a abertura do ramo, forçado a fechar no último sábado, 8. Atividades físicas são permitidas apenas na onda verde e, atualmente, Divinópolis encontra-se na amarela – na qual ficará até o fim deste mês, até uma nova reavaliação do Estado. 

Para tentar reverter a situação, o secretário de Saúde, Amarildo Sousa, se reúne hoje, às 9h, com o Comitê Estadual de Combate à Covid-19 para debater sobre a possibilidade de reabertura das atividades. 

— Divinópolis já reabriu as academias há meses, a Vigilância Sanitária e a Secretaria de Esportes visitaram os espaços, passaram as instruções e, mesmo com a abertura, nossos números continuaram estáveis. É importante ressaltar que estamos fazendo tudo ao nosso alcance para reverter essa questão. Estamos nos preparando para argumentar amanhã — comentou o secretário.

Os manifestantes – profissionais de academias, crossfit e outros – alegam a incoerência da determinação, uma vez que é permitida a abertura de bares e restaurantes, mas proibida a realização de atividades físicas.

O que diz o Minas Consciente?

Em sua página oficial, o governo de Minas classifica clubes, academias, atividades de lazer e esportivas na onda verde – último estágio da reabertura econômica segura. Segundo o comitê, o setor é considerado com serviço não essencial, com alto risco de contágio e aglomeração.

Antes mesmo da reformulação do programa estadual, o segmento já tinha sua volta avaliada como risco.

— Alguns setores haviam sido enquadrados anteriormente no que foi chamado de “onda roxa”. São setores entendidos como mais arriscado no tocante ao contágio, uma vez que abarcam atividades de alto contato e aglomeração — explicou.

Para adequar o Minas Consciente às realidades locais, o governo abriu uma consulta pública para receber recomendações para implementar melhorias. E o setor foi o mais atuante em propor normas para garantir sua reabertura.

— No âmbito da consulta pública, os setores que receberam a maior parte das contribuições foram os de academias e estúdios de atividade física — comunicou o Estado.

De acordo com o governo, os profissionais argumentam sobre a importância do ramo para a promoção de saúde mental e física, prevenção de doenças, e não apenas um ambiente de lazer, mas como um espaço de reabilitação pós-cirúrgica e recuperação de lesões. Eles citam, inclusive, uma resolução de 1997, do Ministério da Saúde, que “classifica o profissional da educação física como profissional de saúde”.

Outro argumento é o impacto econômico sofrido pelo setor, tendo em vista a impossibilidade de home office.

— As academias e estúdios encontram-se fechadas há quatro meses, e, diferentemente de outros segmentos, não obtiveram adesão em uma modalidade virtual, haja vista as dificuldades apresentadas pela própria natureza do setor que carece de equipamentos especializados — relatou o governo.

Ainda durante a consulta pública, o segmento solicitou a reabertura das academias com a “adoção de protocolos mais rígidos”. 

— No entanto, o plano Minas Consciente mantém a visão de que tais atividades geram um risco maior do que as demais neste momento, seja pela natureza da atividade ou do perfil de aglomeração existente, devendo continuar agrupadas da mesma forma — explicou. 

Pedido

Ciente do desejo do setor, o deputado estadual Cleitinho Azevedo (CDN) enviou um requerimento ao governo de Minas solicitando à Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) a revisão da decisão de incluir todas as cidades que aderirem ao Minas Consciente na onda amarela. Para ele, houve o fechamento de “diversos estabelecimentos comerciais que já estavam funcionando de maneira segura, entre eles as academias”. 

O deputado também informou avaliar, junto ao setor, a possibilidade de uma ação judicial para reverter a decisão. Cleitinho ainda destaca que as pessoas estão ficando em casa sem praticar exercícios. Ele argumenta que o sedentarismo pode trazer consequências como aumento dos casos de diabetes, hipertensão, problemas de coluna e outros, forçando essas pessoas a procurarem atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS). 

— Se o objetivo da quarentena é evitar a sobrecarga do SUS, não faz sentido nenhum alimentar um comportamento que mais à frente vai sobrecarregar o sistema do mesmo jeito — afirma o parlamentar.

Cleitinho disse que a atitude do Estado, além de “descabida de sentido, contraria todo o discurso que o governo vem adotando até agora, afirmando que o Estado está em crise. Se está em crise, não pode abrir mão de recursos”, em alusão à arrecadação gerada pelo setor, direta e indiretamente, ao Estado, dada a existência de uma rede de produtos e serviços dependentes do funcionamento das academias.

Justiça 

A Prefeitura de Divinópolis anunciou na última semana a adesão forçada ao Minas Consciente. O Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) acatou o pedido feito pelo Ministério Público estadual, obrigado a cidade a se juntar ao programa. A decisão foi oficializada no dia 5, por meio de publicação no Diário Oficial dos Município Mineiros. As mudanças entraram em vigor no último sábado. 

— É do Estado de Minas, a partir de agora, a responsabilidade pela definição das políticas sanitárias voltadas ao combate à covid-19 — informou a Administração. 

A Prefeitura também comunicou que agora não tem mais poder de definir quais setores podem ou não abrir, e tem apenas o dever de seguir as determinações do Estado. Assim, caberia ao governo de Minas autorizar mudanças de protocolo e ondas para a reabertura das academias.

Já na semana passada, o secretário-adjunto de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, Fernando Passalio, ainda pontuou que o Minas Consciente foi criado como uma alternativa aos prefeitos, respeitando a soberania das administrações.

—  Não cabe ao Estado impor o programa aos municípios — afirmou.

Porém, em razão de uma decisão judicial, todas as 853 cidades de Minas são obrigadas a manter abertos apenas os serviços essenciais ou aderirem ao plano estadual. Assim, detalhou Fernando, entraves devem ser solucionados entre o Executivo local e a Justiça.

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