Premonição

João Carlos Ramos

A palavra premonição é originária do latim pramonitionis, que significa o dom de prever o futuro ou revelar fatos ocultos por meio de profecias, visões, sonhos ou fortes sentimentos. Desde tempos imemoriais, a premonição tem sido algo incontestável. É popularmente conhecido o assassinato do famoso imperador de Roma, Júlio César, previsto de variadas formas.

Sua esposa, Calpúrnia Pisonia, teve um sonho premonitório na noite anterior ao crime, que muito a incomodou e contou ao marido, mas em vão. Imediatamente, ele foi, como de costume, consultar os adivinhos que praticavam a leitura adivinhatória nas vísceras dos animais. O áugure Surinna Vistritius afirmou ao consulente que via suas vestes cheias de sangue, harmonizando com a lua cheia, propícia  para tragédias e assassinatos. Mesmo assim, o imperador se dirigiu ao Senado, segundo Suetônio e Plutarco, onde foi cercado por um grupo de 60 senadores, liderados por seu filho adotivo Brutus, que lhe desferiram 23 punhaladas. Cassandra, imortalizada por Homero e Ésquilo, previu a queda de Troia. A Bíblia nos relata que José teve um sonho premonitório sobre o futuro do Egito, que se cumpriu ao pé da letra.

O antropólogo Saul Martins nos informa que, segundo a cultura popular, sonhar com dentes é previsão de infortúnio, e com fezes é previsão de chegada de dinheiro em pouco tempo para o sonhador. Também o coração das mães segue os passos dos filhos, e os voos das aves são proféticos. Urubus e corujas são aves agoureiras...

Abrindo um parêntesis, enfatizo que cresci ouvindo de meus pais, avós e pessoas idosas que tais afirmações eram verídicas, pois eles eram testemunhas pessoais. Eu também posso testemunhar que tais interpretações são fiéis. No famoso filme “Premonição”, dirigido por James Wong, é descrita a sinopse: "Quando um adolescente tem uma premonição de que o avião em que está vai explodir, ele e seus amigos resolvem não mais viajar. Para surpresa de todos, o avião em que deveriam estar explode. Os integrantes do grupo começam a morrer misteriosamente um a um. Eles se reúnem  para tentarem  entender o que estava acontecendo, antes de serem as próximas vítimas". Mesmo obstante, incrédulos, tentando negar, a premonição existe e temos que manter ligadas as antenas internas da percepção, constantemente. Devo confessar que há noites em que temo dormir, pois sinto as visões e sonhos se aproximando e até mesmo durante o dia sinto-me levemente arrebatado em meus sentidos e ouço vozes decifráveis de coisas que hão de ser. Apenas uma linha tênue separa o imortal da imortalidade e a matéria da alta espiritualidade. Nossos passos são ordenados pelo Senhor e os dons são dados sem arrependimento. 

Nossas  ações, boas ou más, estão escritas nos livros do destino que serão abertos no juízo final. Também sabemos que o mapa astral, tecido no ventre materno,  prevê o destino de todos nós, durante a jornada terrestre. O mundo árabe crê na famosa frase Maktub, que significa: "Está escrito". Conforme as citações acima, devemos medir as palavras e pesar o coração em nossas  lidas diárias, pois "há mais coisas entre o céu e a terra, que jamais pode sonhar vossa vã filosofia” ‒ Shakespeare. Sabemos que ninguém foge de seus próprios pés. Meditando no acima descrito, somada à inspiração que me é peculiar, escrevi o poema que se segue:

A MORTE - A morte chegou cedo,

vestida de covid.

O adeus é artigo de luxo

e a solidão de estimação.

O dia é triste e cheio de facas.

A lua, com seu canto,

multiplica as gotas de orvalho

na noite de todos nós.



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