Prefeitura adota novas medidas para conter avanço do coronavírus

Medidas mais “drásticas” foram tomadas, pois não há mais testes disponíveis para detectar a doença

Matheus Augusto

Divinópolis deve amanhecer, assim como outras cidades, em situação dramática no combate ao coronavírus: com as ruas mais vazias, tráfego de veículos menor e portas dos estabelecimentos alimentícios fechadas. Este promete ser o cenário até o dia 6 de abril. O secretário de Saúde, Amarildo Sousa, e membros do Comitê de Prevenção e Enfrentamento ao Novo Coronavírus anunciaram ontem as novas medidas implantadas na cidade para conter o avanço da doença. O decreto complementar, que entra em vigor hoje, determina a suspensão do alvará de funcionamento de shoppings, inclusive os populares, salões de beleza e outros.

Ações

O secretário anunciou que, no âmbito público, as repartições com serviços não essenciais deverão funcionar em dois turnos de quatro horas cada (entre 8h e 12h; e das 13h às 18h), em escala de revezamento dos funcionários. O regime de trabalho domiciliar – home office – poderá ser adotado durante o período de ausência no setor. Serviços essenciais podem funcionar, desde que obedeçam às recomendações sanitárias.

Casamentos, cerimônias religiosas, autoescolas, clínicas médicas e psicológicas credenciadas ao Departamento Nacional de Trânsito (Detran) – exceto o atendimento de quem exerce atividade remunerada –, salões de beleza, estúdios de pilates, de fisioterapia e de estética também ficam suspensos com a publicação do decreto. A duração dos velórios não pode ultrapassar 6h.

A recomendação é para que trabalhadores da iniciativa privada, acima de 60 anos de idade, sejam afastados até o dia 6 de abril, independentemente do histórico de viagens recentes a localidades com surto da doença.

A secretaria também ordenou a suspensão do alvará de funcionamento de bares, restaurantes e food trucks pelo mesmo período. Tais estabelecimentos, no entanto, podem funcionar por meio da entrega em domicílio (delivery).

Shoppings e galerias estão proibidos de abrir entre hoje e 6 de abril. Bancos, padarias, supermercados, armazéns, açougues, casas lotéricas, varejões e farmácias devem controlar o fluxo de clientes visando à segurança sanitária das pessoas e do ambiente. O consumo de alimentos nesses locais está proibido.

Também estão suspensas as visitas aos hospitais e à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) – exceto quando solicitado o comparecimento para acompanhar o boletim médico dos pacientes internados nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI).

Consultas e exames de rotina devem ser adiados. Apenas pacientes com doenças crônicas devem manter o cronograma de atendimento.

Sem exames

Divinópolis tinha, até ontem, 43 casos notificados (um confirmado, 11 descartados e 35 em análise). O número, no entanto, pode ser maior, já que os testes de identificação não estão mais disponíveis na cidade, como contou a diretora da Vigilância em Saúde, Janice Soares.

— De acordo com a situação do país, todos os nossos serviços estão sem os testes para diagnósticos e confirmação do Covid-19. Existem vários outros casos notificados e atendidos nos serviços de saúde, porém não estão entrando na estática devido a ausências dos testes — destacou.

Em razão da falta de exames, afirma a diretora, o comitê tomou a “difícil decisão” de aumentar o número de estabelecimentos paralisados, como forma de incentivar a população a ficar em casa.

Outro problema identificado pela secretaria para saber o real número de casos na cidade, como relatou a responsável pela Vigilância em Saúde, é a falta de notificação de alguns profissionais sobre casos suspeitos.

— Reforçamos a necessidade de todos os profissionais de saúde, que fizerem o atendimento a pacientes sintomáticos de gripe respiratória, que façam a notificação na Vigilância — alertou.

Alarme

Quem também esteve presente no encontro foi a infectologista Rosângela Ferreira. Segunda ela, os estudos epidemiológicos comprovaram, nos países afetados pelo coronavírus, que a medida mais eficaz é o isolamento social.

— Alguns dias atrás a gente colocava como recomendação, hoje é um apelo — comentou.

A médica alerta que a doença tem sua complexidade, pois não é transmitida apenas pelo ar, mas também pelo contato com roupas, maçanetas, bancadas e outras superfícies.

— O que nós pretendemos é que menos pessoas circulem pelas ruas, que elas fiquem sem contato, porque o vírus vai vir de toda forma, e nós não temos anticorpos contra ele, porque ele é novo — ressaltou.

Rosângela alerta que um dos objetivos é evitar o contágio de muitos cidadãos ao mesmo tempo. Por mais que a situação se estenda, assim, as unidades de saúde teriam condições de lidar com as demandas sem a superlotação.

O momento, para a infectologista, não é de pânico, mas de responsabilidade coletiva.

— A maioria dos casos, 80% e 85%, é branda, 20% podem precisar de hospitalização e 5% de suporte e terapia intensiva — detalhou.

Para a médica, é fundamental a adoção de medidas mais drásticas neste momento, e não quando houver um alto número de casos.

Até o momento, o comitê tem conhecimento de cinco pacientes com suspeita de Covid-19 internados.

Polícia

A partir de agora, também integram o comitê de enfrentamento ao coronavírus o delegado regional, Leonardo Pio; o comandante da 7ª Região da Polícia Militar, Webster Wadim; e a comandante do 10º Batalhão do Corpo de Bombeiros, major Amanda Cristina Miranda. Com isso, quem descumprir as determinações pode sofrer as sanções das autoridades de segurança.

— O comitê agora tem força de polícia e podemos usá-las para garantir o cumprimento das ações desse decreto — afirmou o secretário.

Transporte coletivo

Amarildo descarta, no momento, a possibilidade de reduzir a circulação de ônibus pela cidade, mesmo com o fechamento de parte do comércio.

— A redução de linhas de ônibus não é recomendável, pois, quando se reduz, aumenta a aglomeração de pessoas nessas poucas linhas — explicou.

Ainda de acordo com o secretário, uma reunião está prevista para hoje com o secretário de Trânsito e Transporte (Settrans), Marcelo Augusto, e representantes do consórcio TransOeste para traçar o atual panorama da cidade e definir novas medidas sanitárias para o funcionamento do transporte público.

“Vamos ter calma”

Essa é a recomendação do secretário de Saúde para a próxima semana, quando será iniciada a Campanha Nacional de Vacinação contra a Influenza. Na oportunidade, serão aplicadas doses contra o H1N1 e da tríplice viral.

— Nessa primeira semana de campanha, o público alvo são os idosos e os trabalhadores da saúde. Peço a compreensão da população para que obedeça a essa normativa — detalha.

Os profissionais de saúde serão vacinados no próprio local de trabalho. Uma equipe itinerante fará visita aos estabelecimentos de saúde para distribuir as vacinas. Idosos acamados também não precisam se deslocar até uma unidade de saúde e vão receber a imunização em casa.

— O que nós não queremos é um grande deslocamento de pessoas em busca da vacina. (...) Vamos ter calma. As vacinas chegaram e vamos vacinar sem tumulto, sem provocar mais agraves à saúde dos divinopolitanos — finalizou, esclarecendo que não há necessidade de uma corrida aos postos, pois não se trata de uma vacina contra o coronavírus.

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