Por que as urnas choram

João Carlos Ramos

Sempre foi e sempre será assim: as urnas choram por alguém melhor. Melhor em todos os aspectos, a começar, melhor de que os presentes e melhor daqueles que hão de vir.

As urnas falam como o rio cantante, sempre avante, rumo ao alto mar. Jamais pedirá licença ao presente o mensageiro do futuro, pois é mister atravessar montanhas de candidatos, sem olhar siglas, desejos, ordens de amigos e a força inacreditável das convenções. O mais importante é a vitória. Não a momentânea, mas a que permanece, levando o povo a festejar sempre. Sempre sonhei com uma sociedade igualitária e, por isso, choro com as urnas.

Não me restrinjo apenas a Divinópolis, terra de minha alma e berço que queria ter, mas ao imenso Brasil entregue às traças. Não culpo a um homem, mas ao povo o qual convido a chorar com as urnas. A fumaça fala da mão que acendeu o fogo matador.

Precisamos de prefeitos que executem, sem culpar antecessores, e de vereadores que não aceitem cargos após a lua de mel. Os vereadores devem fiscalizar o Executivo, e não torcer para que o erro ou a incapacidade de sonhar abram brechas para a mercadologia, tão comum em nossos dias. A troca de afagos impede que o riso chegue até o povo e concretize o grande e tão sonhado ideal de servir.

Vemos municípios que poderiam ser gigantes, mas se apequenaram por causa de homens de limitadas visões. Devemos, a meu ver, pensar grande e executar as obras que o povo tanto almeja, principalmente as obras do caráter, alicerce sólido para nós e para o futuro de nossos descendentes. Por que as urnas choram? 

As urnas choram porque repetirá o "zero a zero" de outrora e o povo arrependerá como sempre de ter votado em quem mais prometeu, quem mais chorou, e principalmente, quem mais enganou. Temos muito a aprender com os passarinhos que trabalham tanto na construção de seus ninhos, mesmo sabendo que o amanhã trará meninos que brincarão de destruir o fruto de seus bicos. Mesmo assim eles continuam outras construções. Por que os prefeitos eleitos não constroem nos alicerces dos adversários?

(Ah!... Fiz tudo de bom e meus amigos me ajudaram...) Foi assim que os grandes homens fizeram a leitura do mundo? Um plantou e outro regou, mas o crescimento veio do alto através do povo.

As mães choram por seus filhos desempregados, futuros mendigos de diploma. Mulheres há que jamais poderão sonhar em completar a renda familiar com seus talentos, diplomas e outros méritos.

Crianças talentosas, sem mestres e escolas. Por tudo isso, as urnas choram. O salário mínimo deveria ser o máximo que recomenda a dignidade humana. Sabemos que nada mudará e, mesmo assim, com crença, garra e determinação, nós queremos adiantar a hora da votação, a fim de mudar tudo. Por favor, não me chamem de pessimista, pois sou apenas o porta-voz das urnas que choram.

Dizia o inigualável poeta, João da Cruz e Souza e assino embaixo: 

"Flores negras do tédio

e flores vagas. De amores vãos, tentálicos doentios...

Fundas vermelhidões de velhas chagas,

Em sangue abertas 

escorrendo em rios...".

Alguém ainda pergunta por que as urnas choram?

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