Polarização política é responsável  por fim de relações antigas

 

Maria Tereza Oliveira

A cinco dias do 2º turno das eleições, os ânimos da população estão exaltados. A polarização política tem ditado o tom de conversas que em muitos casos terminam em discussões.

O que antes ficava para os candidatos, principalmente em eleições municipais, agora conta com o apoio de eleitores cada vez mais entusiasmados para defenderem e brigarem pelos seus políticos favoritos.

Independente de quem for eleito, já é certo que as eleições de 2018 terão como resultado a violência de ambos os lados, amizades desfeitas e decepções.

Reviravoltas

A última vez que Minas teve 2º turno para governador foi em 1998, quando Itamar Franco (PMDB) foi eleito. Desde então, Aécio Neves (PSDB) duas vezes, Antonio Anastasia (PSDB) e Fernando Pimentel (PT), venceram seus adversários logo no primeiro turno.

Este ano, porém, Minas não escolheu seu governante no 1º pleito. Com resultados surpreendentes, o candidato que figurava na 3ª colocação durante a maior parte das pesquisas, Romeu Zema (Novo), pulou para a liderança, deixando o atual governador, Pimentel fora da disputa. O 2º turno será decidido entre Zema e o ex-governador, Anastasia.

Na disputa à Presidência, o candidato do PT, na época representado pelo ex-presidente Lula, do mesmo partido, liderava as pesquisas e o deputado Jair Messias Bolsonaro (PSL) estava em 2º.

No decorrer da campanha, Lula foi substituído pelo vice, Fernando Haddad (PT), ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da educação. A mudança fez com que Bolsonaro assumisse a liderança, com o petista em 2º lugar.

O atentado ao candidato do PSL inflamou ainda mais os ânimos do eleitorado que passou a se comportar com ainda mais agressividade. Polêmicas a parte, ao final do 1º pleito, ficou decidido que Bolsonaro e Haddad disputariam o 2º turno.

Amizades desfeitas

O clima que já estava quente entre os eleitores esquentou ainda mais e, como resultado, muita gente perdeu amizades.

O Agora ouviu pessoas com ideologias e votos distintos que já perceberam os reflexos da polarização política em suas vidas.

A psicóloga, Larissa Ribeiro, 22, disse que ainda não perdeu amizades, mas chegou perto. Ela revelou que sempre teve em seu círculo de amigos, pessoas de todas as opiniões e, até então, isso nunca foi motivo para transtornos.

— As pessoas estão sendo intolerantes com as opiniões dos outros e pregando ofensas e desrespeito. Essa falta de empatia está gerando conflitos, inimizades, entre outras situações lamentáveis — opinou.

Para Larissa, mesmo após o fim das eleições, as consequências vão se arrastar e muitas amizades podem ter sido desfeitas para sempre.

— Sinceramente não consigo imaginar muitas melhoras, apesar das festas de fim de ano estarem chegando — considerou.

Ela disse que a polarização seria positiva, caso houvesse respeito entre os lados.

— Opiniões diferentes sempre foram legais. Mas agora ninguém está disposto a ouvir o outro. Parece que estamos em guerra naquele papo de “eu estou mais certo e pronto”, ao invés de pensarem no que é melhor para o país — contou.

O advogado, Felipe Soares, 26, afirmou que a situação fez ele perder inúmeras amizades, inclusive de infância.

— É um período muito louco que estamos vivendo. As pessoas se preocupam mais em mostrar que estão certas do que ouvir os outros. Está todo mundo repetindo: “não interessa a fonte, se não favorece meu candidato, logo é fake news”. Isso vem de todos os lados — destacou.

Ele se declarou isento na situação e afirmou que, para muitas pessoas, isso é visto como uma ofensa.

— Eu não senti ninguém que se encaixasse no que eu busco, e isso parece ser quase tão ruim quanto se posicionar contrário ao que outra pessoa acredita. Então eu acabo xingado por todos os lados (risos) — confidenciou.

Para ele, não importa o resultado da eleição, muitas amizades estão para sempre dissolvidas.

— Se o Brasil vai melhorar, piorar ou ficar na mesma, eu não sei dizer. Mas tem amizade, namoro e até emprego que nunca mais vai voltar a ser como antes — opinou.

O jornalista, Henrique Silva, 23, contou que não perdeu amizades, mas que sua melhor amiga ficou com raiva depois de uma discussão intensa.

— O nível foi tão alto que ela “esqueceu” meu aniversário e só foi me parabenizar dias depois. Mas enfim, seja meu amigo quem quiser, não sou doce nem melado para gostar de mim (risos) — explicou.

Ele atribui a situação ao fato das pessoas quererem ser donas da verdade absoluta.

— Nada pode refutá-las. Nisso, quando alguém coloca um argumento que contrapõe determinada ideia, levam mais para o lado pessoal do que o lado do discurso e troca de ideias. Por isso, as pessoas não querem dar o braço a torcer e preferem se abster de amizades. O que é uma besteira, já que política e pleito eleitoral passam, verdadeiras amizades não — aconselhou.

Sobre reconciliações após as eleições, Henrique acha possível.

— Mas depende de cada pessoa e do nível da briga. Eu acho que nessas horas deve se ter mais tolerância e respeito com a opinião alheia. Depois, nada que um pedido de desculpas e uma boa “saideira” não resolvam — finaliza.

Farpas

Na disputa ao governo de Minas, Romeu Zema e Antonio Anastasia trocaram farpas durante toda a campanha. Durante o horário eleitoral, os programas de cada um se preocuparam mais em alfinetar e se defender de acusações do que em expor as propostas.

O candidato Novo obteve um direito de resposta durante a propaganda do candidato pesedebista na semana passada. Ontem, Zema também ganhou na Justiça Eleitoral pedido que fez para que Anastasia tire em um prazo de 24 horas o conteúdo de um site, que segundo Romeu, amedronta os eleitores.

 

 

 

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