Perfil de mulher

Prof. Antônio de Oliveira
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Corria o ano de 1851. A dançarina italiana Maria Baderna se exibe no Rio de Janeiro. Baderna conquistou uma legião de fãs. Daí a palavra “baderna” ficou associada aos barulhentos admiradores da artista, que passaram a ser identificados como badernistas ou baderneiros. Baderna, então, de sobrenome tornou-se substantivo comum, passando a significar bagunça, confusão, desordem. Bailarina não era bem-vista. O comportamento liberal de Baderna foi considerado um escândalo segundo os padrões. Nos anos 1950 as cantoras Marlene e Emilinha Borba, observados os contextos de época, provocariam reações semelhantes.

Sobre o túmulo das matronas romanas gravava-se este epitáfio: “Domumservavitlanamfecit”. Guardou o lar e fiou a lã. Era a maior homenagem póstuma que se podia prestar a uma mulher. O belíssimo poema bíblico, perfilando uma Mulher Forte, do Livro dos Provérbios, também é vazado no mesmo pensamento: tecer a lã, cuidar do marido, abastecer a casa. Os tempos mudaram. Hoje em dia, se se gravar esse epitáfio sobre o túmulo de uma mulher, vão dizer que ela foi Amélia, “aquilo sim que era mulher”. Não faz tanto tempo assim, o homem era considerado oficialmente o chefe da família, o cabeça do casal. Política, então, além de outras atividades, erade exclusividade do homem.

Se não mais é assim, como será?...

Ser mulher, hoje em dia: é andar na corda bamba sem cair; é manter o equilíbrio entre ser atirada e retraída, entre dominadora e submissa, entre ambiciosa e desprendida, entre feminista e alienada, entre narcisista e despojada, entre pedante e discreta, entre melosa e ríspida, entre inconsequente e ponderada, entre avançada e brega, entre subserviente e autoritária, entre afetada e elegante; é ser original e não cópia; sentir-se inteira da cabeça aos pés; é fazer o link entre tempo e eternidade, entre a terra e o céu; é cair na real todos os dias do ano. Mulher na justa medida. Tenho uma mulher assim...

 

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