Pensamentos que surpreendem

Augusto Fidelis

Engraçado, não sei bem o motivo, mas, de uma hora para outra, comecei a me lembrar do jornalista Roberto Marinho, cuja morte eu senti muito. Personalidades como ele têm uma capacidade enorme de se tornar próximas da gente, embora tão distantes. Tornam-se membros da família. Eu sempre achei que Roberto Marinho era meu primo rico, residente ali no Rio de Janeiro, que nunca se importou com este primo pobre aqui em Divinópolis.  Morreu, deixou uma fortuna, eu mesmo não herdei nada.

Outra personalidade que me deixou muito triste com a sua morte foi Célia Cruz, a lendária cantora cubana, radicada nos Estados Unidos. Conhecida no mundo inteiro como “Rainha da Salsa”, Célia Cruz era, para mim, uma espécie de madrinha, a quem nunca pude pedir a bênção. Seu velório durou sete dias, com missas de corpo presente em Miami e Nova York e histeria de multidões nas ruas. Acompanhei tudo pela televisão e chorei com os que choravam. Ninguém é personalidade por si; cabe ao povo a consagração.

Todos os dias surgem novos artistas, despertam-se novos empresários, revelam-se novos talentos no futebol, no teatro, na política, enfim, nos mais diversos campos da atuação humana. Muitos são chamados ao sucesso, poucos conseguem torná-lo perene. Na maioria das vezes tudo é fugaz. O povo gosta de novidades. Quando surge alguém com características de ídolo, a multidão coloca no altar, incensa, dirige orações e preces. Ao menor sinal de que não haverá milagre, o próprio povo derruba o altar e ateia fogo nos escombros.

Portanto, aqueles que conseguem se manter nos seus nichos são realmente dignos de respeito e admiração.

Célia Cruz e sua banda fugiram de Cuba após a revolução de Fidel Castro, indo primeiro para o México, depois para os Estados Unidos. Superou todas as adversidades com fé, trabalho e carisma. Tornou-se amada, referenciada, uma bússola para várias gerações de artistas latinos. Não teve filhos, mas criou uma fundação para dar apoio a tantos pequeninos, de maneira especial aos devotados à música.

Se alguém disser que nunca sentiu a morte de uma personalidade, seja esta ou aquela, está mentido. Lembra-se da morte da princesa Diana? Se canalizadas, as lágrimas dos seus admiradores transbordariam o mar. Há pessoas que morrem, são pranteadas, depois esquecidas. Outras se eternizam nos seus feitos. Eu sempre chorei por aqueles que se vão, personalidades ou não, embora não vista luto. Prefiro seguir a opinião de Noel Rosa:

 

“Roupa preta é vaidade

Para quem se veste a rigor

Meu luto é a saudade

E saudade não tem cor”.

 

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