Pelo direito ao off

Leila Rodrigues

É domingo de manhã. Estou com meus pais, meus irmãos e sobrinhos. O cenário é a cozinha da minha mãe. O lugar mais simples e mais acolhedor que eu conheço. Ela faz o café de sempre e começamos a conversa. Sem roteiro, sem cerimônia, sem segundas ou terceiras intenções. É em um desses momento que eu decididamente exerço o meu direito de ficar off.

Sim, eu quero o direito de permanecer desligado ou de ligar-me quando eu bem entender. Quero o direito de curtir os meus amigos, meus discos e livros dentro da minha casa, ou onde quer que queiramos, desde que seja apenas entre nós. Quero o direito de praticar o verbo curtir e compartilhar através de abraços e olhares.

Quero ouvir a voz dos meus verdadeiros amigos. Quero um abraço de verdade no dia do meu aniversário. Quero olho no olho. Quero pele, calor, abraço, risada. Quero tocar, sentir, cheirar e saborear meus momentos. Quero o mais comum dos presentes, presença! Quero comer, beber, dançar, cantar e ser feliz sem necessariamente divulgar os meus momentos. Nada contra quem o faz. Cada um usa seu espaço tecnológico como lhe convém. Mas não me cobrem uma exposição que não faz parte dos meus princípios. Admiro e me divirto com quem o faz por livre e espontânea vontade, e não para angariar curtidas como se fossem ações da bolsa.

Eu já sei que a tecnologia é um caminho sem volta, também sou uma cidadã que usufruiu de todas as possibilidades tecnológicas, mas daí a me tornar uma pessoa alienada que não é capaz de desgrudar do celular nem para ir ao banheiro já é demais! E ainda que eu use a tecnologia para tantas coisas boas e interessantes, que eu tenha o direito de não me expor, que eu respeite os limites que eu um dia coloquei para mim. E que o meu padrão de escolha seja respeitado pelos demais.

Quero dizer eu te amo para quem eu amo ouvir. Quero o direito de passar um dia desconectado do mundo e conectado às minhas raízes, aos meus filhos, enfim, às minhas escolhas.  Que a minha falta de jeito com fotografia seja respeitada e que eu continue tendo o direito de aproveitar as minhas viagens sem narrá-las como se fossem um programa de viagens da TV.

Então, se eu tiver off e não participar da sua conversa do seu post ou do seu grupo, respeite o meu direito de conexão privada comigo. Não me cobre um filme da minha vida, porque eu estou ocupado demais vivendo!

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