Pela madrugada

Leila Rodrigues

Pela madrugada

3h08 da manhã. Abro os olhos. E a fábrica de pensamentos, que acha que tem que funcionar 24 horas ininterruptas, começa a funcionar. Imediatamente ela começa a pensar! E pensa! 

Pensa no dia, nas tarefas, volta no tempo, nas possibilidades e viaja pelos problemas na velocidade da luz. Se pudéssemos traduzir, seria um carro sem freio e que tem um condutor que nunca dirigiu na vida. 

Rezo, respiro, conto as contas do terço e nada. Tenho raiva de mim, raiva de não me obedecer. Tenho pena de mim, pena de não conseguir frear meus próprios pensamentos. 

Desejo o vazio. Desejo algo que possa me esvaziar. 

Esvaziar-se é dar a mente a possibilidade do descanso. Esvaziar-se é deixar em algum lugar a poluição que nos invadiu. Pessoas, coisas, problemas, contas, opções e opiniões que passaram por nós e decidimos, muitas vezes sem perceber, que ficassem conosco. 

E então continuamos carregando cada coisa dessa no pensamento. E eis que a cabeça não dá conta de administrar tanta coisa. 

Então decido escrever. Escrever ainda é a minha forma de dar vazão aos meus pensamentos sem me consumir por eles. Escrever faz com que eles se organizem feito criança depois do recreio e esperem silenciosamente a hora de se tornarem palavras escritas em algum papel. 

Pensamentos amam quando são revelados. Pensamentos sossegam quando são tangibilizados. Pronto, agora não são só pensamentos! Agora viraram lista, desenho, rabisco, mandala, checklist, planejamento, agenda ou poesia. Não importa o que se tornaram, importa que agora deixaram de existir somente na minha cabeça exausta. 

Que me perdoem a psicologia, a psicanálise, a yoga, a meditação, o mindfulness e todos os que trabalham incansavelmente para nos ensinar “esvaziar” a mente. 

Hoje quem me salvou foi a caneta. 

Agora, sim, posso voltar a dormir. Vazia!

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