Pé de jabuticaba

Pé de jabuticaba 


Entrei debaixo de um pé de jabuticaba esses dias, na casa de um amigo lá em São Paulo, e falei: “Nossa, eu adoro essa árvore, me lembra minha infância, meu avô e meu pai”. Os almoços de domingo, a simplicidade, a pobreza e o amor. Meu avô sempre teve um pé de jabuticaba no quintal dele lá no bairro Niterói, na rua Rubi, onde meu pai cresceu e morou até se casar com minha mãe. Cresci em volta de jabuticaba. Confesso que nem era uma fruta que eu gostava tanto quando criança, e nem me chamava tanta atenção. Sempre fui mais fã de morango, uva, abacaxi, mexerica, kiwi! Porém, agora, de uns tempos para cá, percebi que eu passei a gostar mais de jabuticaba. Até comprei uma vez um saco na feira do Esplanada, estavam lindas, até brilhavam. Eu reparei que eu comecei a gostar mais por uma memória afetiva, da lembrança que ela me traz, aí ela fica mais gostosa. 

 

A jabuticaba me lembra a simplicidade e o amor que tem na família do meu pai. Um povo tão humilde, doce, querido. Do lado da minha mãe a gente é mais azedo (me incluo nessa), reclama mais da vida, mal da classe média brasileira. Como eles foram muito pobres e tiveram uma criação muito mais tranquila e em paz, com um pai muito religioso e amoroso que era meu avô Geraldo, eles são pessoas mais de bem com a vida. Hoje é aniversário do meu pai. Dia lindo para se nascer: junto com a primavera! O amor e a admiração que eu sinto por ele são mais bonitos do que um campo inteiro de flores. As muitas marcas de expressão no rosto dele que o fazem parecer ter mais idade do que tem ‒ de tanto trabalhar no sol ‒ são as marcas de um homem sofrido, cansado, mas muito orgulhoso de tudo que penou na vida. 

 

Ele contava que saía para vender picolé com meu avô aos 12 anos ou menos, minha avó fazia doce para vender e eu ficava imaginando a cena, era transportada para lá. Adoro ouvir as histórias do meu pai, ele é um grande livro aberto para mim. Ele já foi de tudo na vida: pedreiro, porteiro, pintor, vendedor, “chapa” (eu esqueci até o que isso significa, acho que é carregar peso). Só não conseguiu estudar, como tantos nesse Brasil cruel e desigual, teve que parar no ensino médio. Se ele tivesse estudado, eu não sei o quão longe ele teria chegado, é até difícil de medir. Tenho uma admiração total e absoluta, nunca vi tanta sabedoria e conhecimento, garra, foco, disciplina. Tudo que eu tenho de melhor veio dele e da minha mãe. 

 

Um dos maiores medos que eu tenho na vida é perder meu pai, agradeço a Deus por mais um ano de vida dele. Tudo que eu faço eu faço pensando nele, ele é minha paixão, meu xodó, minha mãe tem ciúmes, mas ela sabe que eu sou alucinada e doente por ela, que eu queria morrer junto quando achei que ela fosse partir de covid, até deitei em cima dela na maca do hospital, ela me xinga até hoje. Fazer política ajudando as pessoas vai ser um jeito de eu homenagear meu pai e meu avô, que sofreram tanto, ralaram tanto, para sempre, enquanto eu viver. Todo sofrimento que meu pai passou na vida, tudo que ele passou pra criar a gente, as noites dormindo em hotéis de beira de estrada, os acidentes de carro, os perrengues na estrada, os desaforos de cliente, os calotes, os medos, o cansaço. Tudo já valeu a pena e vai valer muito mais. 

 

Sempre quis desbravar o mundo para trazer orgulho para ele, vou dar muito orgulho pra ele ajudando mais Afonsos por aí a terem oportunidade de trabalhar e conseguirem dar uma vida melhor pros seus filhos, e ver seus filhos irem muito mais longe do que poderiam imaginar. É sobre isso. Meu avô Geraldo, pipoqueiro, picolezeiro e pedreiro, construiu a catedral de Brasília, era um candango, mas nunca voltou lá para ver a capital pronta. Nunca, na cabeça dele, ele poderia sonhar q a neta dele iria para lá trabalhar no Congresso Nacional ao lado de uma grande deputada federal, e, quem sabe um dia, poder até ser a própria parlamentar para representar pessoas comuns como ele, que precisam de mais dignidade, mais emprego, mais saúde, mais renda, mais dignidade, mais qualidade de vida. É a beleza da política!

 

Quando eu entrei debaixo do pé de jabuticaba semana passada, veio tudo isso na minha memória e na emoção de forma muito forte. Aliás, vou mandar esse artigo para o meu amigo, que é um ser humano incrível e um grande pai, ele vai adorar! Se tivesse jeito, eu plantava um aqui em casa, mas não tem espaço físico, por enquanto, só no coração. Feliz aniversário, pai, você é o grande responsável por eu estar aqui e por tudo isso de eu querer mudar o mundo!





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